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domingo, 16 de novembro de 2008

50 MILHÕES DE REFUGIADOS AMBIENTAIS


A Organização das Nações Unidas calcula que mais de 50 milhões de pessoas podem ser obrigadas a abandonar suas casas nos próximos anos por causas ambientais como elevação do nível do mar, desertificação, inundações e degradação da terra. Estatísticas da Federação Internacional da Cruz Vermelha e da Meia Lua Vermelha são ainda mais contundentes: aqueles que hoje são refugiados devido a esses desastres somam mais do que os refugiados de guerras. As catástrofes ambientais já contribuem com grandes correntes de migração permanente, afirmaram especialistas da Universidade das Nações Unidas (UNU), na quarta-feira, Dia da ONU para a Redução de Desastres.
As centenas de milhares de refugiados ambientais expulsos pelos furacões Katrina e Rita da costa norte-americana do Golfo do México são "apenas a ponta do iceberg", disse Janos Bogardi, diretor do Instituto de Meio Ambiente e Segurança Humana da UNU. "Muitas pessoas na mesma situação estão muito mais desesperadas", disse Bogardi à IPS. "Se não se cuidar da fonte do problema, a espiral fugirá do controle", acrescentou. A generosidade do público e o alívio humanitário se concentram em desastres ambientais bem divulgados, como o terremoto do dia 8 no Paquistão, o tsunami de 26 de dezembro na Ásia e os últimos furacões do Golfo do México.
Entretanto, milhões de pessoas são obrigadas a deixar seus lares por mudanças ambientais graduais, como a desertificação, a degradação do solo ou a elevação do nível do mar. Obrigados a se mudar para qualquer outra parte, estas pessoas recebem, em comparação com as vítimas das catástrofes conhecidas, menos apoio em matéria de alimento, abrigo, cuidados médicos e ajuda financeira. Tampouco são reconhecidos como refugiados, como acontece com os que abandonam seus países por razões políticas. "Há mecanismos internacionais para ajudar os que fogem de guerras e conflitos armados, mas não existe nada para os refugiados por causas ambientais", lamentou Bogardi.
"Esta é um problema muito complexo, com organizações mundiais já saturadas pela demanda de refugiados convencionais, tal como foram definidos em 1951", disse o subsecretário-geral da ONU, Hans van Ginkel, reitor da UNU. "Deveríamos nos preparar agora para definir, aceitar e ajudar este novo grupo de refugiados dentro dos contextos internacionais", acrescentou. Especialistas afirmam que os "refugiados ambientais" devem ser cuidadosamente definidos e distinguidos dos migrantes econômicos, que abandonam voluntariamente sua terra natal em busca de uma vida melhor e que podem retornar sem sofrer perseguições.
Contudo, tal definição é um problema conflitivo, disse Tony Oliver-Smith, antropólogo da Universidade da Flórida e da UNU. A opinião pública mundial crê, em geral, que quase todos os desastres ambientais são naturais, quando, de fato, muitos são conseqüência de ações humanas, como o uso insustentável dos recursos, disse Oliver-Smith. Por exemplo, a população da capital do Iêmen, Sana`a, duplica a cada seis anos, em média, desde 1972, e hoje conta com 900 mil habitantes. Em contrapartida, o nível do espelho de água que abastece a cidade diminui seis metros por ano e pode esgotar-se até 2010, segundo estudos do Banco Mundial.
E, na China, o deserto de Gobi se expande mais de dez mil quilômetros quadrados por ano, ameaçando muitos povoados. O especialista Norman Myers, da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha), disse que Marrocos, Túnis e Líbia perdem a cada ano mais de mil quilômetros quadrados devido à desertificação. A metade das terras irrigadas do Egito sofrem os efeitos da salinização, enquanto 160 mil quilômetros quadrados de propriedades agrícolas da Turquia sofrem os efeitos da erosão. O assessor e docente da UNU, Bem Wisner, disse que não se deve deixar de responsabilizar governos nacionais por "vínculos indevidos com madeireiras, minas a céu aberto e grandes fazendas de gado que realizam práticas que degradam a terra".
"Mesmo em caso de eventos naturais, como os furacões, construir uma cidade como New Orleans abaixo do nível do mar, em uma zona com grandes ciclones, é uma decisão humana que levou a uma catástrofe ambiental", disse Oliver-Smith. As preocupações pelas toxinas presentes no meio ambiente e o custo da reconstrução resulta em que uma grande parte dos refugiados de New Orleans nunca poderão regressar, afirmou o especialista. No caso do terremoto do Paquistão, a maior parte das mortes pode ser atribuída à falta de estruturas apropriadas de construção das casas e à sua localização inadequada, considerou Oliver-Smith. "Várias centenas de milhares de pessoas podem acabar como refugiadas permanentemente", acrescentou.
O principal entre os desastres ambientais de ritmo lento é a degradação da terra, como propriedades agrícolas e pastagens que não podem servir de sustento à população e ao gado devido tanto ao manejo errado das fazendas quanto pela mudança climática. Milhões de pessoas na África e Ásia foram expulsos de suas terras, e a comunidade internacional deveria agir nos casos em que os governos nacionais se vêem incapazes, afirmou Bogardi. "A vulnerabilidade aumenta em todo o mundo devido ao rápido desenvolvimento de megacidades em áreas costeiras", disse Oliver-Smith. "Essa tendência, combinada com a elevação do nível do mar e a crescente quantidade e intensidade das tempestades, é a receita para um desastre antecipado, com enorme potencial de desatar ondas de emigração".
Alguns já se preparam para o pior. A ilha-Estado de Tuvalo chegou a um acordo com a Nova Zelândia para que acolha seus 11,6 mil cidadãos no caso de o Oceano Pacífico submergir o país. Estimativas indicam que cem milhões de pessoas vivem abaixo do nível do mar e em águas costeiras. A UNU propõe a criação de um painel intergovernamental sobre degradação de terras, tal como o existente para a questão da mudança climática.
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Autor :50 milhões de refugiados ambientais (Stephen Leahy}

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