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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

PERCEPÇÃO DAS TRAGÉDIAS


Em meio ao esforço de toda a sociedade para amparar as vítimas da tragédia que se abateu sobre Santa Catarina em razão da seqüência impressionante de dias chuvosos, especialistas de diversos setores, principalmente meteorologistas, geógrafos e outros cientistas, advertem que não são apenas as forças da natureza que contribuem para a gravidade e intensidade das inundações e deslizamentos de terra, mas também a própria ação do homem. Ao descurar da preservação ambiental, obstinar-se na manutenção de um sistema que menospreza estudos aprofundados para a ocupação dos espaços, ao promover o desmatamento, a desertificação das áreas marginais dos cursos dágua e o assoreamento dos rios, o ser humano nada mais faz que criar um ambiente que lhe será, mais dia menos dia, inóspito. Infelizmente, muito do nosso patrimônio natural já está comprometido, e como as mazelas decorrentes do aquecimento global tendem a se tornar cada dia mais freqüentes e intensas, há que se olhar ao longe, de modo que Santa Catarina e o país estejam preparados no futuro próximo não só para atuar em situações como a presente, mas capazes de responder a agressões naturais ainda maiores. Não se trata de pessimismo - e oxalá jamais voltemos a enfrentar a fúria da natureza na escala que presenciamos este ano - , mas de um pragmatismo amparado na ciência que poderá, na necessidade, nos poupar vidas e recursos.

Assim como ocorre nos países em que terremotos são uma ameaça constante e nos quais os cidadãos, desde cedo, recebem instruções de como se portar em situações extremas, também aqui devem todos receber orientações específicas acerca dos perigos naturais que nos ameaçam. No Japão, por exemplo, os poderes públicos estabeleceram critérios severos para a construção de edificações e obras públicas, elaboraram procedimentos padrões para a evacuação de regiões densamente povoadas e adquiriram amplo conhecimento sobre tremores de terra, desenvolvendo a partir daí diversos equipamentos capazes de antecipar a ocorrência de cataclismos. Hoje, contam com tecnologia de ponta para detecção de terremotos, estruturas urbanas construídas de forma a absorver o máximo de impacto, equipes médicas e de resgate especializadas e uma população treinada para enfrentar situações de alto risco. Além disso, intercambiam informações sobre terremotos e tsunamis com dezenas de países asiáticos e com os Estados Unidos.

Analogamente, e de acordo com nossas peculiaridades, precisamos empreender aqui os mesmos esforços, começando por imprimir maior racionalidade no planejamento das expansões urbana e agrícola, pela criação de equipes aptas a entrar em ação tão logo sejam emitidos os primeiros sinais de socorro, pela instalação nos locais de risco de equipamentos capazes de refletir fidedignamente o avanço das águas e a condição do solo e, por óbvio, pela recuperação do meio ambiente degradado. A dragagem de rios, revitalização de matas ciliares, proibição de construção de moradias em áreas como encostas e várzeas e o repovoamento de matas nativas são ações indispensáveis para que as manifestações da natureza não nos sejam tão prejudiciais. Que se tire do presente episódio uma lição que nos será de grande valia, para a atual e as futuras gerações: é preciso preservar a natureza e, respeitando-a, estar sempre preparado para suas mais intensas manifestações.
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FONTE : Editorial do DC, edição de 4/12/2008

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