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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Colômbia: Diálogos climáticos preventivos


Agências das Nações Unidas e entidades do governo da Colômbia iniciaram esta semana uma série de diálogos nacionais para atuar na prevenção de danos que este país enfrentará nas próximas década em razão da mudança climática. “Esperamos que a participação das agências da ONU nos permita encontrar mecanismos de prevenção diante das eventualidades naturais”, disse à IPS o indígena Manuel Antonio Monpotes, do departamento do Cauca, ao fim do encontro “Luta contra a pobreza e adaptação à mudança climática”, realizado em Bogotá.

Monpotes mora o Maciço Colombianao, uma zona onde a cordilheira dos Andes se trifurca e nascem cursos de água importantes, como o rio Magdalena, que atravessa o país o para o norte e desemboca no Atlântico. De forma paralela corre o rio Cauca, enquanto ao Pacífico chega o Patía e os rios Putumayo e Caquetá avançam para o Amazonas. O Maciço é um conjunto de montanhas e páramos repartidos entre os departamentos de Cauca, Huila e Nariño. É habitado por comunidades negras e indígenas ancestrais, periodicamente ameaçadas pelo avanço de colonos e depois pelos atores do velho conflito interno colombiano, que já tem quase meio século.

Nos últimos anos, somaram-se também as alterações climáticas: chuvas que causam transbordamento de rios e arrasam povoados e alagam de plantações forçando o deslocamento de centenas de pessoas. Em 2008, quase 1,9 milhão de pessoas em todo o país foram afetadas por inundações, avalanches, deslizamentos, tempestades elétricas e vendavais; 250 morreram, 506 ficaram feridas e 46 desapareceram, segundo dados oficiais. “A Colômbia é uma das regiões de maior risco frente a mudança climática”, afirmou no encontro Ricardo Lozano, diretor do Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais da Colômbia (Ideam).

“Na América Latina aumentaram a intensidade e a presença de eventos extremos, e na Colômbia, por ficar em uma área de influência direta do aquecimento das águas do Pacífico, o impacto é muito mais forte do que em qualquer outro país da região”, afirmou Lozano. A localização geográfica e os riscos que representam o brigam a Colômbia a avançar de maneira acelerada na redução de sua vulnerabilidade, disse o diretor do Ideam. “Prevenimos através de informação de satélite que monitora a periodicidade e o aumento na intensidade dos fenômenos”, acrescentou. “As variações, segundo as condições, e os resultados obtidos, facilitam para os ministérios a criação de planos de contingência, segundo o risco e a vulnerabilidade”, explicou.

Para os ministérios e o Congresso se dirige a maioria das queixas ambientais e de uso do território por organizações não-governamentais e ecológicas. Entre as denúncias recorrentes da última década estão críticas ao Código de Minas, que favorece a privatização de fontes superficiais e subterrâneas de água. Em resposta a uma pergunta da IPS, Lozano disse que “não é tão certo” o discutido divórcio entre o corpo institucional e legal e as políticas ambientais necessárias para uma adaptação à mudança climática. “As pessoas misturam licenças ambientais com oferta hídrica”, afirmou.

Existe um sistema nacional ambiental cuja política é regida pelo Ministério de Meio Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial, com participação de corporações autônomas, institutos de pesquisa, universidades e organizações não-governamentais, disse Lozano. “Apostamos na participação comunitária que desde o local até o nacional busca o fortalecimento e a organização. As comunidades estão fazendo isso diante de medidas fundamentais, com o abastecimento de água”, ressaltou.

Na terça-feira e quarta-feira houve o “Diálogo nacional interministerial sobre mudança climática com ênfase no setor agrícola”. A intenção é fortalecer ou por em marcha trabalhos com participação das comunidades. Nesse terreno, Lozano destacou êxitos no Maciço Colombiano e no Parque Natural Chingaza, que fornece água a Bogotá e boa parte do departamento de Cundinamarca. “É preciso ver o compromisso das comunidades”, enfatizou. Sua opinião foi compartilhada pela especialista em política Carolina Figueroa, que após se formar com uma tese sobre energia limpa agora realiza uma pesquisa sobre a situação dos páramos colombianos e a mudança climática, com apoio de organizações não-governamentais internacionais.

Os páramos são ecossistemas montanhosos não arborizados, entre três mil e quatro mil metros de altitude. Têm uma diversidade única de espécies vegetais e animais e são uma importante fonte de água doce. “O páramo funciona como uma esponja que capta a água da chuva, a filtra e libera” para outros locais, segundo o Mapa dos Ecossistemas dos Andes do Norte e Centro, publicado este ano. Em seus cumes há restos de geleiras e lagoas que alimentam mananciais e riachos. “A ação das comunidades em muitas partes é evidente e positiva. E neste momento não se intervém nos páramos, mas, diante das muitas solicitações, especialmente internacionais, há uma ameaça latente e permanente”, disse Carolina. Os pedidos para explorar recursos nos páramos colombianos se dirigem especialmente à exploração mineira e extração e comercialização de água, sobre as quais o governo ainda não se pronunciou.

Neste país, os impactos mais severos da mudança climática derivariam em um aumento médio da temperatura de dois graus e seriam sentidos sobretudo ao longo da região andina e da costa Caribe no norte. As projeções indicam que a Colômbia poderia sofrer redução de 30% nas chuvas, especialmente na região andina, aumentando o déficit hídrico nas bacias que abastecem os aquedutos, a irrigação e as represas de hidrelétricas, e prejudicando bens e serviços ambientais de todos os ecossistemas.

Um dos ricos é que as alterações na natureza agravem a situação de pobreza e, em geral, comprometam o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio assumidos em 2000 pelos países de todo o mundo como plataforma para erradicar a miséria e a desigualdade. Para Manuel Monpotes é importante que o processo dê frutos. Hoje está na fase de reconhecimento de vulnerabilidades, capacidades políticas, organizacionais e administrativas.
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FONTE : Helda Martinez, da IPS (IPS/Envolverde)

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