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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Grupo de ONGs se desliga da Rede de Ongs da Mata Atlântica – RMA


"Aos nossos companheiros de luta,

Comunicamos que após muita reflexão sobre os fatos e cuidadoso amadurecimento, decidimos nos desligar da Rede de Ongs da Mata Atlântica – RMA. Os motivos que nos levaram a tomar essa decisão estão divulgados abaixo, na Carta Aberta às ONGs da RMA:

Às ONG’s da Rede de ONGs da Mata Atlântica

As entidades abaixo assinadas CEPEDES – Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul/BA, In-PACTO Instituto Proteção Ambiental Cotia/Tietê/SP, APROMAC – Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte/PR, e Instituto Rã-Bugio/SC, vêm comunicar que pretendem se retirar do coletivo de entidades da Rede de ONGs da Mata Atlântica a partir do dia 03 de agosto de 2009, por não concordarem com diversas posições unilaterais tomadas pela coordenação da Rede nos últimos anos. Em resumo, as entidades signatárias não têm mais afinidade ideológica com os estranhos rumos que as últimas coordenações da RMA vêm dando à rede. Dentre os motivos, apontamos apenas alguns deles:

DIÁLOGO FLORESTAL (DF) – Embora quaisquer das entidades filiadas da RMA obviamente tenham total liberdade para decidir sua participação individual nesse e em outros fóruns, neste caso do DF, antes de aceitar o convite, a coordenação na época deveria ter apresentado a questão a todos os filiados e não tomado decisão apenas e tão somente dentro do âmbito da coordenação, pois éramos uma REDE DE ONGs, e não uma ONG individual. A falta de diálogo verdadeiro numa rede enseja que as partes não se reconhecem como legítimas, pois não há sobretudo confiança mútua. É exatamente a falta desse reconhecimento e dessa confiança por parte de inúmeras entidades da RMA, cientes do “modus operandi” dessas empresas, em especial as de celulose, que não lhes é nem oportuno nem ético, manter tais diálogos. Afinal, são empresas que adotam recorrentemente práticas agressivas de apropriação do nosso território e dos recursos naturais nele existentes, gerando impactos políticos, sociais, culturais e ambientais extremamente graves e de difícil possibilidade de remediação, para atender um modelo de produção e consumo absolutamente insustentável de uma minoria da humanidade.

Prova disso, e que não nos surpreende, é que o tal diálogo não tem servido para impedir estas e outras empresas de continuarem normalmente com suas práticas de degradação ambiental dizimando cada vez mais o bioma, afetando diretamente populações vulneráveis no Brasil e em todas as regiões do mundo. Por tudo isso, avaliamos que nossa participação orgânica somente serve para legitimar um processo cada vez mais controlado por interesses privados.

O CEPEDES vem, há 18 anos, denunciando o processo de desmatamento da Mata Atlântica e a implantação ilegal da monocultura do eucalipto na região do Extremo Sul da Bahia, assim como denuncia incansavelmente a opção do modelo de desenvolvimento regional que ignora os direitos das comunidades locais e das gerações futuras. Nessa conjuntura na qual governo e setor privado agem em aliança contra os interesses coletivos, entendemos que o nosso papel como ONGs ambientalistas autônomas é o de denunciar e refletir sobre os resultados ambiental e socialmente nefastos dessa atividade econômica para a região, opondo-se firmemente à injustiça ambiental.

2 – PRÊMIOS MOTO SERRA E AMIGO DA MATA ATLANTICA – Testemunhamos a suspensão arbitrária do processo de indicação dos Prêmios, por parte da coordenação da RMA, quando esta percebeu que as papeleiras estariam à frente merecendo o Troféu Motosserra. A coordenação tomou a decisão sem consultar o coletivo de entidades, embora sempre falando publicamente em nome dessas. E como se não bastasse, acaba de entregar o troféu Amigo da Mata Atlântica ao Parlamentar do Estado do Maranhão, exatamente onde uma das empresas participantes do Diálogo Florestal pretende se instalar. Isso aconteceu em evento patrocinado pela associação que congrega as empresas de papel e celulose, BRACELPA.

As entidades abaixo assinadas não concordam com a forma como as últimas coordenações da RMA vêm agindo, não compartilhando com as ONG’s filiadas as tomadas de decisões que envolvem sua luta pela proteção do bioma.

Diante disto, informamos que estaremos nos retirando deste coletivo a partir do dia 03 de agosto de 2009, para não mais legitimarmos essas condutas, mas efetivamente exercermos nossas missões pela proteção da Mata Atlântica com coerência e dignidade, reafirmando a nossa reflexão/ação de contraponto a este modelo autoritário de REDE que consideramos nocivo ao meio ambiente e à sociedade em geral.

Brasil, Mata Atlântica, 27 de julho de 2009.

CEPEDES – Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul / BA, In-PACTO Instituto Proteção Ambiental Cotia/Tietê / SP APROMAC – Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte / PR Instituto Rã-BUGIO / SC "

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