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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Lester Brown: "O que se necessita é de liderança"


Lester Brown diz que, às vezes, seus pontos de vista parecem extremos porque a grande maioria dos meios de comunicação dominantes não entende a urgência e os desafios que impõe o catastrófico fenômeno da mudança climática. “Não podemos nos dar ao luxo de deixar que o planeta esquente muito mais”, afirma. Após trabalhar como fazendeiro no Estado de Nova Jersey (EUA), na década de 60 entrou para o Serviço Civil, convertendo-se em um especialista em políticas agrícolas ates de fundar o Worldwatch Institute, em 1974.

Ganhador de muitos prêmios e títulos honoríficos, Brown é autor de 50 livros. Em 2001 fundou o Earth Policy Institute, com sede em Washington, do qual é presidente, para traçar um mapa do caminho para uma economia ambientalmente sustentável. A IPS conversou com Brown sobre seu novo livro, “Plan B 4.0: Mobilizing to save civilization” (Plano B 4.0: mobilizar para salvar a civilização). Trata-se da quarta versão, e talvez a mais urgente, da série “Plano B”, que pode ser acessada no site do Instituto na Internet.

IPS- Em seu novo livro você reclama redução de 80% nas emissões de carbono até 2020. Isso é muito mais do que qualquer país propôs até agora.

Lester Brown- Os líderes políticos se fixam na magnitude que deveria ter a redução das emissões para ser politicamente viável. No Earth Policy Institute, entretanto, avaliamos quanto é preciso para evitar os efeitos mais perigosos da mudança climática. As enormes plataformas geladas da Groenlândia e da Antártida ocidental já estão derretendo em ritmo acelerado. Se derreterem completamente, isso elevará em 12 metros o nível do mar. Os glaciais de montanha estão diminuindo em todo o mundo e correm risco de desaparecer, incluídos os das montanhas da Ásia, onde o derretimento dos gelos alimenta os principais rios do continente durante a estação seca. Para estabilizar o clima e manter o futuro aumento das temperaturas globais em um mínimo, precisamos manter a concentração de dióxido de carbono em 400 partes por milhão.

IPS- É possível semelhante redução das emissões?

LB- Exigirá uma mobilização mundial própria de tempos de guerra. Primeiro, investir em eficiência energética nos permitirá impedir o aumento da demanda mundial por energia. Deixar de usar diodos emissores de luz e passar a sensores inteligentes como os detectores de movimento, o que pode reduzir em 90% a quantidade de eletricidade utilizada em iluminação. Depois, podemos reduzir em um terço as emissões substituindo os combustíveis fósseis por fontes de energia renovável na produção de eletricidade e calor. Em poucos anos, o Texas vai quadruplicar sua produção de energia eólica para oito mil megawatts. E pretende aumentar para 40 mil MW, o equivalente a 50 centrais alimentadas a carvão.

Reduções adicionais de 14% nas emissões seriam conseguidas reestruturando nossos sistemas de transporte e diminuindo o uso de carvão e petróleo na indústria. Acabar com o desmatamento em todo o mundo pode representar redução de mais 16%. Por último, plantar árvores e manejar solos para capturar carbono pode absorver outros 17%. Nenhuma dessas iniciativas depende das novas tecnologias. Sabemos o que é necessário fazer para reduzir em 80% as emissões de dióxido de carbono até 2020. e tudo o que se precisa agora é liderança,.

IPS- A maioria das pessoas, incluídos os líderes políticos, não parece ter nenhum senso de urgência ou perigo a respeito da mudança climática. O que motiva esta proposta de mobilização “de guerra”?

LB- A mudança já está ocorrendo e se acelerando. As emissões de carbono nos Estados Unidos baixaram 9% este ano, e não apenas pela recessão. Duvido que no futuro se construa uma nova usina elétrica movida a carvão neste país: somente neste anos, 22 serão fechadas ou reconvertidas. Quando o aumento do nível do mar for mais evidente, as pessoas agirão. Isto é algo semelhante à queda do Muro de Berlim, em 1989. houve anos de descontentamento generalizado antes dessa queda, e depois, aparentemente da noite para o dia, se produziu uma revolução política que mudou tudo. Esmos nos movendo para esse tipo de ponto de inflexão.

IPS- Quais outros sinais de que o planeta está chegando a esse ponto de inflexão?

LB- Vejo uma mudança nos padrões de socialização. Em uma época, obter a licença para dirigir ou possuir um automóvel era a chave para a interação social dos jovens. Isso está mudando. No Japão, a socialização agora acontece via Internet e as vendas de carros novos estão em queda. A frota automobilística diminui, inclusive nos Estados Unidos, e aumenta o uso de bicicletas.

Também vejo muito busca por valor: quais são os efeitos na saúde do uso de automóveis e do estilo de vida baseados no traslado contínuo? Como podemos construir ruas completas com passeios e ciclovias que sejam seguras para todos? A crise econômica também mudou o pensamento. Creio que surgiremos como uma sociedade muito menos materialista.

IPS- Isso será suficiente para reestruturas as economias mundiais?

LB- Não sei. No final, a corrida para salvar a civilização é entre os pontos de inflexão sócio-econômicos e os naturais.
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FONTE : Stephen Leahy, da IPS, Uxbridge, Canadá, 08/10/2009 (Envolverde/IPS)

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