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sexta-feira, 19 de março de 2010

17/08/2006 - 09h08 - Antes que a Natureza morra - James Pizarro*

Programa de rádio na Universidade Federal de Santa Maria ficou 26 anos no ar tratando de meio ambiente.

Em agosto de 1977, pelas ondas da Rádio Universidade, foi ao ar pela primeira vez o programa "Antes que a Natureza Morra", o primeiro programa de educação ecológica da radiofonia brasileira, segundo atestou o Ministério das Telecomunicações. Eu idealizei o programa e era uma espécie de "faz-tudo" no mesmo, pois era o responsável pela produção, seleção musical e locução. Trabalhei com vários responsáveis pela mesa técnica e efeitos sonoros : Cleber Mariano, o Garça; Jaciol di Giacomo; Celso Reimi Pimentel; Renato Molina e Celso Franzen.

Quem me convidou para fazer um programa e trabalhar na Rádio Universidade foi o diretor da mesma, o radialista e dentista Roberto Bisogno. Era reitor da UFSM o professor Hélios Homero Bernardi, que assinou portaria autorizando minha cedência para a rádio da instituição para lá trabalhar durante vinte horas semanais. Esta cedência foi mantida pelos reitores subseqüentes durante mais de 20 anos.

O programa levou o título de "Antes que a Natureza Morra" em homenagem ao antológico livro, de autoria do biólogo francês Jean Dorst, diretor do Museu de História Natural de Paris. Este livro era leitura obrigatória para meus alunos do Curso de Ciências Biológicas da UFSM e pelos militantes das organizações não governamentais que tratavam da defesa ambiental.

O programa, nos primeiros meses, ia ao ar com apenas uma hora de duração. Depois, se fixou em duas horas de duração, aos sábados e domingos (reprise), das 10:00h às 12:00h. Eu apresentava um assunto em cinco minutos e colocava a rodar uma música popular brasileira, sempre cantada, cujo teor da letra sempre tinha a ver com o tema sobre o qual estava tratando.

O programa apresentava dados sobre desmatamento, erosão, poluição, agrotóxicos, informações técnicas sobre animais e plantas, entrevistas com cientistas e autoridades ligadas ao meio ambiente, denúncias sobre agressões à natureza da região, explicações sobre leis ambientalistas.

Professoras das redes estadual e municipal de ensino que ministravam aulas aos sábados pela manhã entravam em contato comigo e sugeriam a pauta do programa. Então eu preparava programação especial sobre o assunto pedido e elas instalavam caixas de som nas aulas e os alunos recebiam as explicações todas através do programa, num trabalho absolutamente inovador para a época, precursor da chamada "Open University".

Várias edições do programa foram ao ar na rede nacional de emissoras universitárias, pois naquela época existiam 25 universidades brasileiras que possuíam rádio. A Fundação Roquete Pinto também levou ao ar algumas edições comemorativas a datas especiais ligadas ao meio ambiente. O programa recebeu prêmio nacional em concurso promovido pelo Ministério da Educação.

O programa sempre teve enorme audiência em Santa Maria e região pelo inusitado do tema tratado. Um dos ouvintes assíduos era o amigo Manoel Antônio Marranquiel, que me mandou o seguinte poema de sua autoria:

"Antes que murche a rosa derradeira,
no jardim da praça entristecida;
antes que seque o ramo da videira
no quintal tão pobre e já sem vida,

"Antes que o último pardal
à minha porta venha saltitar
e o sereno em forma de cristal
não tenha folhas para orvalhar,

"Antes que o céu perca o azulado
e o ar se turve enegrecido;
antes que o verde fique amarelado
e a vida não tenha mais sentido,

"Antes que as águas parem de correr
e sequem as vertentes mais profundas,
antes que a semente venha a fenecer
no seio da terra infecunda,

Antes enfim da triste realidade
neste mundo cheio de incerteza,
façam algo pela Humanidade
ANTES QUE MORRA A NATUREZA !"

O programa recebeu muitas homenagens e moções de louvor de muitas câmaras de vereadores das cidades pertencentes à zona geoeducacional de Santa Maria, assim como moção de louvor da Assembléia Legislativa do RS e centenas de cartas de apoio das ONGs brasileiras que defendiam o meio ambiente. É bom que se diga que foi um trabalho voluntário, pois nunca ganhei nenhum tipo de remuneração extra por tê-lo feito.

Durante certa época, quando a emissora sofreu grave crise de falta de verbas específicas, eu fiz um convênio com a SEMA - Secretaria Especial do Meio Ambiente do governo brasileiro, e o titular daquele órgão, meu amigo pessoal Dr. Paulo Nogueira Neto, forneceu todas as fitas de rolo BASF para a gravação do programa. Também consegui junto à FATEC, de Santa Maria, verba para a aquisição de discos para o programa, que tratei de doar para a discoteca da rádio.

Pois me aposentei da UFSM como docente. E a direção do Departamento de Divulgação da época, à qual a Rádio Universidade estava subordinada, não manifestou interesse na continuação do programa. Até me solicitaram a desocupação da sala por mim usada durante quase duas décadas para a produção do programa, onde guardava meus livros, fichários, documentos e centenas de rolos de fitas. Isso me desgostou e me aborreceu muito, o que fez com que retirasse o programa do ar.

Até agora, agosto de 2006, não surgiu programa similar na radiofonia nacional !
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FONTE/AUTOR : (*) James Silveira Pizarro é engenheiro agrônomo, mestre em Ecologia e professor. Contatos: jamespizarro@hotmail.com (Envolverde/Ecoagência)
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