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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sociedade não está pronta para os refugiados climáticos


O diretor Michael Nash, do filme Climate Refugees, fala como vivem os que tiveram que abandonar seus lares por causa das mudanças climáticas, um problema que poderá afetar 50 milhões de pessoas na próxima década segundo a ONU.

A ocorrência cada vez mais freqüente de fenômenos climáticos extremos forçará o aparecimento crescente de refugiados ambientais. Um exemplo recente dessa realidade são as enchentes no Paquistão, que já estão obrigando a migração de centenas de milhares de pessoas.

O provável desaparecimento de pequenas ilhas oceânicas, como Tuvalu e Maldivas, por causa do aumento do nível do mar e a desertificação de regiões semi-áridas serão outras causas de migrações em massa nos próximos anos.

O Brasil não deixará de ser afetado, com o sertão nordestino se tornando ainda mais inóspito e obrigando as pessoas a irem para outras regiões. Mesmo cidades que hoje parecem distantes de qualquer efeito das mudanças climáticas terão que investir muito dinheiro para alterar sua agricultura e até seu modelo econômico para se adaptar a questões como a alteração do ciclo de chuvas.

A própria ONU, através do seu Alto Comissariado para Refugiados (Acnur), já se prepara para esse grande problema ao afirmar que cerca de 50 milhões de pessoas deverão ter que abandonar seus lares na próxima década porque o clima inviabilizará sua sobrevivência.

O primeiro retrato realizado sobre essas pessoas a ganhar espaço na imprensa mundial foi o filme Climate Refugees, vencedor de diversos prêmios internacionais incluindo no Festival de Sundance de 2010. O seu diretor, Michael Nash, concedeu entrevista a Anna Clark, presidente da EarthPeople e autora do livro "Green, American Style", falando sobre a questão dos refugiados climáticos e o futuro deles. Confira:

Anna Clark: Você viajou para países como Bangladesh, China e Chade. Existe uma experiência comum entre os migrantes climáticos no mundo hoje?

Michael Nash: Existe um cruzamento nesse momento na civilização onde o super consumismo, a super população e a falta de recursos estão colidindo. Para a maior parte dos refugiados é tudo relacionado com a água, ou para mais ou para menos. Em Bangladesh, por exemplo, 150 milhões de pessoas vivem no nível do mar. Um aumento de um metro no oceano arrasaria 40% da suas terras e alimentos. Muitos refugiados estão lidando com enchentes e salinização da terra, enquanto outros estão sofrendo com secas. Todos estão enfrentando a realidade de que não podem mais sobreviver no local onde sempre moraram.

AC: Para onde irão esses migrantes?

MN: Na história, sempre houve terra suficiente para as pessoas ocuparem, mas isso não é mais verdade. Na busca por novas áreas para povoar, as pessoas de países sem recursos irão para os com recursos. Nações com fronteiras permanentes, como existem nos últimos séculos, podem não funcionar da mesma maneira agora que o mundo está se transformando tão rapidamente.

As pessoas não cruzarão fronteiras atrás de riquezas minerais, mas de comida e água. Olhe para o México e Estados Unidos. Muitos latinos que atravessam a fronteira fogem de locais onde a comida é escassa para onde há em abundância. Nós acreditamos que os migrantes climáticos irão seguir esse padrão e entrar em países vizinhos.

AC: Como tem sido a postura internacional com relação aos migrantes climáticos?

MN: Atualmente não há lei que forneça asilo para os refugiados climáticos. Mianmar, que foi completamente varrido por um ciclone recentemente, pessoas foram alojadas em campos de refugiados em outros países. Eles não estão nos documentos oficiais como refugiados do clima, mas é isso que eles são.

Também temos Darfur. Lá, os pastores do norte e os fazendeiros do sul estão lutando pelos últimos pedaços de terra arável da região. Em 2025, 66% das terras cultiváveis da África terão desaparecido. Isso é um tsunami que está se aproximando da humanidade e não estamos preparados para lidar com ele. A situação demanda que políticas internacionais protejam os refugiados.

AC: Existe algo que possa dar esperança para o futuro?

MN: Nós estamos agora focados em exibir o filme em colégios e universidades. Quando perguntamos para as audiências mais jovens o que eles esperam que seus netos irão dizer daqui a 50 anos, a maioria deles é bastante otimista.

O ser humano é inteligente. Temos a tecnologia para consertar isso. Alguns países já estão fazendo isso, não existe razão para que os EUA não façam também.
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FONTE : Fabiano Ávila (Envolverde/CarbonoBrasil)

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