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domingo, 14 de novembro de 2010

CURITIBA : Aterro da Caximba dará adeus sem deixar saudades


O aterro sanitário da Caximba, que por 21 anos armazenou o lixo de Curitiba e mais 17 municípios da região metropolitana, será oficialmente encerrado às 8 horas da próxima segunda-feira. Depois disso, os caminhões levarão os resíduos para os aterros provisórios da Estre Ambiental, em Fazenda Rio Grande, e da Essencis, na divisa entre a capital e Araucária.
Das 2,4 mil toneladas coletadas todos os dias, 2,3 mil irão para a Estre e as outras cem toneladas à Essencis. Se conseguir a licença de operação junto ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP), a Cavo também deve receber parte dos resíduos em um terreno em Mandirituba. Depois de fechado, o aterro da Caximba receberá monitoramento constante e, segundo José Antônio Andreguetto, secretário do Meio Ambiente de Curitiba, deve ser transformado em parque no futuro.
Moradores: Comunidades vivem emoções opostas
Os moradores do bairro Caximba estão ansiosos para ver o aterro parar de operar. Apesar das garantias de fechamento, eles ainda se mostram preocupados com um possível retorno do lixo. Esse temor só deve acabar com a implantação em definitivo da usina de reciclagem, o Sipar. A comunidade organizou uma série de manifestações para amanhã e segunda-feira a fim de dar o adeus definitivo ao aterro. “Na segunda, uma equipe vai monitorar a entrada da Caximba e outra vai para Fazenda Rio Grande, acompanhar o novo aterro. Mas a maior parte da comunidade vai celebrar em uma missa”, conta Jadir Silva de Lima, presidente da Aliança para o Desenvolvimento Comunitário da Caximba (Adecom), entidade que não fez outra coisa nos últimos anos a não ser lutar pelo fim do lixão.

Já do outro lado do Rio Iguaçu, em Fazenda Rio Grande, o clima é de medo. Na segunda-feira, após às 8 horas, os caminhões de lixo vão começar a rumar para o aterro da Estre Ambiental.
Vizinho da área, o agricultor Ilso Salesbram vive da natureza. Faz queijo crioulo do leite das vacas, tem criação de peixes e carneiros, produz húmus de minhoca e planta caqui em sua terra, a cerca de 500 metros do novo aterro. “Nós construímos tudo aqui. Criei meus dois filhos nesta propriedade”, relata. Salesbram teme perder clientes pela proximidade com o lixo. “Sempre tive o maior cuidado com minhas vacas, dando ração natural, evitando dar remédios. E agora vem o lixo para cá”, reclama.

A demora na definição do vencedor da licitação que vai implantar a nova usina de reciclagem de resíduos, o Sipar, cuja discussão está na Justiça, obrigou o Consórcio Intermunicipal a credenciar áreas provisórias para abrigar o lixo. Nesta semana, em razão de irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR) na licitação, a fase final do processo terá de ser refeita, com possibilidade de que um novo vencedor seja decretado. Antes, o Consórcio Recipar havia sido homologado ganhador. Em princípio, os aterros devem receber os resíduos por 24 meses, mas há possibilidade de prorrogação.

“Nossa intenção é implantar o Sipar, significando avanço tecnológico. Mas, se não tivermos uma solução no prazo de 24 meses, o uso desses aterros pode se estender”, afirmou Andreguetto, que recusou a responder perguntas sobre o impasse jurídico da licitação. O secretário pediu a compreensão dos curitibanos caso ocorram atrasos na coleta do lixo entre segunda e terça-feira, já que o terreno da Estre fica mais longe do que o da Caximba. “Não queremos causar transtornos, mas pode haver algum tipo de complicação”, diz. Ele garante ainda que não haverá nenhuma cobrança extra da população em razão das mudanças.

Avanço
Apesar do estigma que envolve a questão do lixo, a tendência é de que os novos aterros causem menos danos ao meio ambiente e incômodo à sociedade graças à evolução da tecnologia e da legislação ambiental nos últimos 20 anos. Entre 1989 e 1999, o Aterro da Caximba recebeu pilhas e outros produtos de difícil degradação, pois não havia restrição. A partir de 1999, as Resoluções n.º 257 e n.º 258, do Conselho Nacio­­nal do Meio Ambiente (Conama), mudaram as formas de tratamento desses resíduos. E, em agosto deste ano, foi sancionada a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê nova forma de manejo do lixo em todo o país.

Para o professor de Engenharia Ambiental e do mestrado e doutorado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Carlos Mello Garcias, aterro não é solução, mas houve melhora. “A Caximba foi feita com cuidado na época, mas seria impossível prever o que se faz hoje”, afirma. Garcias ressalta, no entanto, a necessidade de evolução para acabar com o depósito de resíduos em aterros. Para que as obrigações da lei sejam cumpridas, o IAP promete fiscalização rigorosa. Se for constatada alguma irregularidade, as multas podem chegar a R$ 5 milhões.

Tanto a Estre Ambiental quanto a Cavo alegam que seus aterros são, na realidade, centros de gerenciamento de resíduos sólidos e que não vão gerar cheiro e nem permitir a proliferação de vetores (ratos e urubus), além de tratar o chorume, uma das exigências impostas pelo IAP para o licenciamento.
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FONTE : Antônio More, jornal GAZETA DO POVO, Curitiba, edição de 30/10/2010.

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