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terça-feira, 24 de julho de 2012

Fisiologia, geologia e meio ambiente, artigo de Roberto Naime

Rochas metamórficas apresentam contatos gradacionais que lembram a distribuição dos vasos sanguíneos dentro dos músculos. Os vasos sanguíneos, da aorta aos capilares, se ramificam e dividem e voltam a ramificar-se até se tornarem tão estritos que os glóbulos sanguíneos são forçados a deslizar em fila indiana.
A natureza desta ramificação é fractal. Sua estrutura assemelha-se a um contato entre rochas ígneas plutônicas (de profundidades) com rochas metamórficas de alto grau, pois ambas ocorrem na mesma profundidade crustal.
Os contatos de uma rocha denominada migmatito, que nada mais é do que a mistura de gnaisses (rochas metamórficas de alto grau) com granitos (rochas ígneas plutônicas) apresentam geometria perfeitamente igual aos vasos sanguineos se diluindo no interior de tecidos. Numa geometria que dificilmente conseguiria ser representada por equações lineares.
Esta estrutura fractal que a natureza imaginou, opera com enorme eficiência nos tecidos animais e vegetais e deve ter a mesma função nas rochas, embora aparentemente esta funcionalidade ainda não tenha sido bem descrita e nem bem interpretada em seus objetivos. E tende a ocorrer na natureza e no meio ambiente em geral, mesmo que ainda não se compreenda bem o fenômeno.
Nos vasos sanguíneos, a medicina afirma que nenhuma célula está a uma distância maior de 3 ou 4 células de um vaso sanguíneo. Na transição gradual de um tipo de artéria para outro, é por vezes difícil classificar a região intermediária. Algumas artérias de calibre intermediário tem paredes que sugerem artérias maiores, enquanto algumas artérias grandes tem paredes como as transmissoras de tamanho médio. Há toda uma região de transição gradacional, que é comumente descrita como de “artérias mistas”.
No caso dos seres vivos sabe-se exatamente a função, no caso das rochas os motivos ainda são especulativos. Mas em ambos os casos representam padrões, nem tão irregulares, com notável princípio de ordem, mas que certamente não são facilmente descritos em termos de equações lineares. O mesmo ocorre com a natureza e o meio ambiente.
O mesmo pode ser dito do sistema coletor urinário, que se revela fractal desde o canal biliar no fígado. Os batimentos cardíacos, como certos tremores de Terra ou certas sequências de dados econômicos também se revela fractal em muitos aspectos. A melhor definição parece ser a de um labirinto de trilhas que se ramificam e se organizam para ser idênticas a si mesmas, em escalas cada vez menores.
Mandelbrot dizia que as complicações só existem no contexto da geometria euclidiana tradicional que não consegue representar estes fenômenos (GLEICK, pg 104).
O DNA não pode especificar o vasto número de brônquios, bronquíolos e alvéolos, mas pode determinar o processo de repetição da bifurcação que resulta numa determinada geometria. Uma de cunho fractal, em essência. A biologia moderna avança no sentido de especular que a escala fractal não era apenas comum, mas universal em morfogênese. A forma com que estes padrões são codificados é um dos grandes desafios da moderna biologia.
Rochas sedimentares com rochas ígneas quase sempre têm contatos bruscos, pois representam ambientes tectônicos sempre diversos e condições de formação diferenciadas que raramente interagem entre si.
Da mesma forma, em sua estrutura física ampla, os animais e plantas estão muito presos a concepção de escala. É fácil imaginar um ser humano com uma escala que seja o dobro do seu tamanho, e teremos imaginado uma estrutura cujos ossos desabarão sob o próprio peso.
Os terremotos frequentemente guardam diferenças de escala porque respeitam os princípios do holomorfismo de James Hutton, embora muito se discuta da funcionalidade disto, para que serve. Mas este fenômeno é semelhante a capilaridade dos vasos sanguíneos, desde os maiores até os menores que tem função de capilarizar o sangue que vai alimentar as células.
Da mesma forma, as nuvens vistas da janela de um avião parecem randômicas e quando observadas em imagens de satélite que guardam distância maior, frequentemente parecem exibir padrões fractais, vale dizer ordenados em sua aparente irregularidade.
Os furacões formam um outro “continuum” como a irrigação sanguínea em vasos cada vez tão menores que permitem às células ter acesso aos nutrientes. Não existe diferença de natureza entre uma pequena ventania e um grande furacão. É certo que as condições metereológicas influenciam muito na transformação da ventania em furacão, mas os extremos do “continuum” formam uma só peça com o meio.
A abordagem fractal abarca toda a estrutura em termos das ramificações que a produzem e se comportam de forma análoga e independente da escala. De certa forma a natureza é muito próxima disto, tanto em seu meio físico, quanto biológico. E como meio ambiente são as relações naturais entre os meios físico, biológico e antrópico, podemos usar uma analogia para afirmar que as relações no meio ambiente tendem a responder de forma mais adequada a esta abordagem.
O homem, enquanto animal faz parte do meio biológico. Mas devido a sua grande capacidade de interferência nos outros meios, recebe um meio diferenciado, cuja grande característica foi descrita pelo geólogo Ter Stepanian. Produz suas profundas intervenções de engenharia, com a finalidade de patrocinar a ocorrência de vida gregária e a melhoria de qualidade de vida em todo tipo de ambiente e com isso impacta significativamente o meio natural.

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FONTE : Dr. Roberto Naime, Colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 24/07/2012

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