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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Escola Tuyuka lança livro sobre pássaros usados na confecção de adornos cerimoniais

Publicação descreve animais usados para confecção de adornos rituais, como são criados ou capturados, alimentados, manejados e como suas penas, pelos e presas são retirados e processados. Pesquisa para livro foi feita pelos alunos de um dos povos do Alto Rio Negro que mais lutam para proteger suas práticas cerimoniais
A Escola Tuyuka, com apoio do ISA e PDPI (Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas), está lançando uma nova publicação sobre pássaros e outros animais que fornecem matérias-primas para os adornos cerimoniais do povo indígena Tuyuka, do Alto Rio Negro (AM).
Capa da publicação da Escola Tuyuka



O livro “Pássaros-adornos dos Filhos da Cobra de Pedra” é escrito na língua tuyuka e conta com vários desenhos e fotos. Na parte final, foi incluída uma tradução integral para o português, permitindo o acesso a um público mais amplo. A publicação está disponível na loja do ISA (clique aqui).
Cada capítulo é dedicado a um dos animais usados na confecção dos adornos, como são criados ou capturados, alimentados, manejados, como suas penas, pelos, presas e outras partes são retiradas e processadas. Muito além da ecologia das espécies usadas na produção dos adereços, a pesquisa que baseou a publicação descreve também sua percepção ritual.
Entre os povos indígenas do lado brasileiro do Alto Rio Negro, os Tuyuka foram dos poucos que perseveraram em suas práticas cerimoniais e conservaram algumas de suas caixas de adornos – resistindo à repressão imposta a suas práticas rituais pelas missões salesianas da Igreja Católica.
Professor José Ramos (organizador do livro), ao fundo, com alunos da Escola Tuyuka, em 2011



Atualmente, mesmo com os novos desafios representados pelos aparelhos de som com amplificadores, tevês com parabólicas e todo tipo de música entrando nas comunidades, há também um movimento para proteger os conhecimentos dos cantos e danças rituais e a confecção dos adornos.
Nessa mobilização, já foram feitos um livro sobre as narrativas de origem (em tuyuka e português) e um álbum com três CDs de cantos e músicas instrumentais.
Nos últimos anos, a Escola Tuyuka formou alguns jovens indígenas como técnicos em áudio, com apoio do projeto Som nas Aldeias, com o objetivo de registrar o repertório de cantos dos velhos. Recentemente, um artesão da etnia Barasana ensinou a alguns tuyuka a confecção da caixa de adornos.
Seguindo o método da Escola Tuyuka, por meio de pesquisas dos alunos, o trabalho sobre os pássaros-adornos foi coordenado pelo professor José Barreto Ramos. Teve início com uma turma no final do Ensino Fundamental, prosseguindo no Ensino Médio.
“Nós, alunos da Escola Tuyuka, pesquisamos sobre os pássaros-adornos. Os professores nos acompanharam junto aos velhos conhecedores, para que esses saberes viessem a aparecer como escrita, nesse livro”, contam na introdução do livro.
“A partir de perguntas que fazíamos, os resultados da pesquisa apareceram. Alunos, professores, pais, outros leitores interessados, abram esse livro. Aqui está uma parte dos saberes sobre pássaros importantes que fornecem penas para fazer adornos cerimoniais, sobre os animais que dão outros materiais para fazer adornos, assim como nossas ilustrações”, escrevem os autores.
Escola Tuyuka

O território tuyuka está dividido entre Brasil e Colômbia, onde vivem cerca de 500 pessoas. A Escola Indígena Utãpinopona Tuyuka está localizada no Alto Rio Tiquié, afluente do Rio Uaupés, extremo noroeste do Amazonas, junto à fronteira com a Colômbia.

A escola tem hoje cerca de 100 alunos, distribuídos por diferentes comunidades. O ensino valoriza a pesquisa, a língua e a cultura tuyuka, numa pedagogia voltada a discutir como melhorar a qualidade de vida das populações indígenas da região de maneira sustentável. Todos os processos ligados direta ou indiretamente à escola têm participação comunitária.

Em todas as opções oferecidas aos jovens, parte da formação acontece dentro da escola e outra parte fora, quando alunos e professores podem passar mais tempo ao lado dos especialistas tradicionais da comunidade (o dançador, o benzedor, o líder tradicional, o caçador etc).

A escola já realizou um conjunto de oficinas de música com os principais cantores, dançadores e entoadores tuyuka do Tiquié. Temas relacionados às musicas, narrativas de origem, benzimentos, confecção e estudo de adornos e conhecimentos relacionados sempre foram abordados nas pesquisas escolares.

Em 2007, foi formulado um projeto para o PDPI sobre valorização cultural e gestão dos conhecimentos para as futuras gerações. O livro “Pássaros-adornos dos Filhos da Cobra de Pedra” é o produto mais recente desse trabalho.



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