centraisnucleares A segurança das usinas nucleares europeias em xeque
Muitas centrais nucleares da Europa estão fora dos padrões mínimos de segurança. Foto: Monica S/CC-BY-ND-2.0

Berlim, Alemanha, 18/10/2012 – A chamada “prova de resistência” realizada nas usinas nucleares da União Europeia (UE) confirmaram os piores temores de ambientalistas e opositores às centrais atômicas: que estas não cumprem os padrões mínimos de segurança. Os testes realizados em 134 reatores nucleares em 14 países do bloco obedeceram à preocupação da população diante da possibilidade de um desastre como o ocorrido na central japonesa de Fukushima Daiichi, em março de 2011.
O informe assegura que “os cidadãos da UE devem ter confiança em que a indústria nuclear da Europa é segura”. Contudo, as conclusões do documento, apresentado no dia 4 em Bruxelas, sugerem o contrário, que os cidadãos da União Europeia têm muitos motivos para sentir medo. Apenas quatro países “contam com sistemas de segurança adicionais, independentes dos normais, localizados em áreas bem protegidas de fenômenos externos”, afirma.
O estudo também conclui que, “em quatro reatores (em dois países diferentes), os operadores têm menos de uma hora para restabelecer as funções de segurança em caso de falhas”. Além disso, “em outros dez ainda não há instrumentos sísmicos instalados no local”, acrescenta o documento. Apenas sete países contam com um “equipamento móvel, em particular geradores a óleo combustível, necessários em caso de total falta de eletricidade, fenômenos externos ou acidentes graves”, alerta o estudo. Os ativistas questionam que os testes foram quase totalmente teóricos, e que suas conclusões e recomendações não foram legalmente vinculantes.
O próprio informe diz que “grupos de revisão principalmente compostos por especialistas dos países-membros visitaram 24 locais, dos 68 existentes, levando em conta o tipo de reator e sua localização geográfica.”. Detalha também que “as visitas a cada país foram concebidas para consolidar a implantação dos testes de resistência, sem invadir as responsabilidades das autoridades nacionais em matéria de inspeções na área de segurança nuclear”.
A catástrofe de Fukushima, considerada a pior deste tipo desde o acidente de 1986 em Chernobil, na Ucrânia, provou que as centrais atômicas precisam estar protegidas contra os fenômenos considerados “altamente improváveis”. Segundo a própria União Europeia, “o ocorrido em Fukushima revelou elementos muito conhecidos e recorrentes: projetos ruins, sistemas de apoio insuficientes, erros humanos, planos de contingência inadequados e falta de comunicação”.
Os testes de resistência apenas confirmaram o que organizações ambientais e contrárias à energia nuclear temem há anos. Agora, aproveitam as conclusões do estudo para reclamar sua eliminação gradual do continente.
Tobias Muenchmeyer, especialista do escritório alemão do Greenpeace, declarou à IPS que “os testes de resistência confirmam que os sistemas de alerta são insuficientes e que a aplicação das diretrizes em caso de acidentes graves também o é. Nessas situações, as usinas devem ser fechadas. Os testes constituem um sinal de alarme para a eliminação gradual das usinas nucleares em toda a Europa”.
Segundo outros ativistas e dirigentes políticos, pelo menos as conclusões da avaliação devem levar ao fechamento imediato de todas as centrais nas regiões fronteiriças, nas quais os acidentes não teriam impactos apenas na população e no meio ambiente locais, mas também em regiões externas e em seus cidadãos. Tais medidas afetariam instalações de Bélgica, Bulgária, Eslováquia, França, Holanda, Hungria, República Checa e Romênia.
Johannes Remmel, ministro do Meio Ambiente do estado alemão de Renânia do Norte-Westfalia, disse aos jornalistas que todas as centrais nucleares deficientes instaladas nas regiões de fronteira da Europa deveriam ser fechadas ou, pelo menos, não funcionarem após sua “vida operacional”. Segundo Remmel, “um acidente com vazamento radiativo afetaria as populações de vários países”. Ele se referiu em especial às centrais belgas de Tihange e Doel, consideradas particularmente frágeis e localizadas, respectivamente, a 60 e 120 quilômetros do território alemão. Houve reclamações semelhantes na Áustria pelas usinas nucleares de Eslováquia e República Checa.
Os testes de resistência lançaram luz sobre o alto preço que as centrais atômicas podem ter. Contudo, a UE assegurou que “os países participantes começaram a tomar medidas para melhorar a segurança de suas usinas nucleares. O custo para melhorar a segurança iria de US$ 39 milhões a US$ 258 milhões para cada um dos 132 reatores existentes. Os números se baseiam em estimativas da autoridade de segurança nuclear francesa, que cobre mais de um terço dos reatores da UE e estão sujeitas a confirmação pelos planos nacionais de ação.
Jo Leinen, ex-ministro do Meio Ambiente do Estado alemão de Sarre, considera que poderia ser feito melhor uso desse dinheiro. “Ou a UE e seus membros investem para melhorar as usinas nucleares a fim de torná-las mais seguras, ou as fecham”, disse à IPS o atual deputado do Parlamento Europeu. “Se as melhoras custam, realmente, US$ 32 milhões no total, seria melhor investi-los em fontes alternativas de energia”, ressaltou.
Fukushima também fortaleceu a oposição popular à energia nuclear no mundo. Enquanto isso, numerosas centrais em construção, como Olkiluoto 3, na Finlândia, e Flamanville, na França, incorrem em custos elevadíssimos. Agora, os testes de resistência feitos pela UE acrescentaram outra pedra no sapato da energia nuclear. O crescente peso das fontes renováveis na geração de eletricidade revela que é possível e factível um mundo sem energia nuclear, a qual, por outro lado, diminuiu de forma regular em relação ao máximo histórico de 17%, em 1993, para 11% no ano passado.

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FONTE :  Envolverde/IPS