embalagens No sertão cearense, projeto de reciclagem de escola mobiliza a cidade inteira Alunos de escola técnica pública coletam e transformam embalagens longa vida em mantas de isolamento térmico e outros resíduos em produtos sustentáveis.
No início era apenas uma ideia de cinco alunos para a feira de ciências da Escola Estadual Dr. José Alves da Silveira, do município de Quixeramobim, no sertão cearense. Eles faziam o primeiro ano do curso técnico de edificações e a escola acabara de ser inaugurada. A ideia estava voltada para o reaproveitamento de embalagens longa vida (Tetra Pak), material descartado em abundância na cidade e que poderia ser utilizado na confecção de mantas a serem instaladas nos forros das casas. Elas iam promover conforto térmico, reduzindo a temperatura interior das residências de famílias de baixa renda, em até oito graus.
Os estudantes comprovaram a redução de temperatura por meio de experiências e estatísticas, realizadas criteriosamente durante dias. O fato de 5% do material longa vida ser composto por alumínio garante o atributo de isolamento térmico. Para concretizar a ideia, era só questão de organizar a coleta das embalagens, higienizá-las e operacionalizar a costura das mantas. E assim foi feito.
O projeto foi denominado Reação. O nome foi sugerido por um designer industrial do Sebrae, que deu consultoria à escola e projeto. “ Toda ação gera uma reação. A nossa reação é reaproveitar o lixo”, explica Adriana Alves, professora e coordenadora do curso de edificações e do projeto Reação da Escola Estadual Dr. José Alves da Silveira.
O próximo passo foi deflagrar campanhas pela cidade para arrecadar as embalagens. Os alunos foram à rádio explicar a iniciativa, pois muita gente não sabia do que se tratava o material. Eles também foram de casa em casa, supermercados, lanchonetes, etc, convocar a população para doar as embalagens longa vida.
Toda a cidade ficou sabendo que a escola queria o material para produzir as mantas, que iam promover conforto térmico nas casas das famílias menos favorecidas. A adesão foi total. “Hoje, recebemos as embalagens abertas e higienizadas na escola”, conta Adriana. O projeto acabou envolvendo todos os alunos da escola de Quixeramobim. Durante gincana, realizada em junho do ano passado, foram arrecadadas 30 mil embalagens. As mantas têm 60 m²/cada. Até o momento, uma casa foi forrada e duas serão entregues, em breve.
Outro grande objetivo do projeto Reação é estimular os pais dos alunos a constituir cooperativa para produzir as mantas de isolamento térmico de embalagens longa vida, como opção de geração de renda, segundo Adriana. A iniciativa da escola visa aprendizagem científica para os alunos e não se trata de atividade produtiva ou que objetive lucro, esclarece ela.
Outros produtos
O projeto Reação não ficou só nas mantas de embalagem longa vida. Os alunos desenvolveram sacolas térmicas, protetores de para-brisa, carteiras, bolsas para notebook, lancheiras, estojos de lápis, entre outros, feitas do mesmo material. Os recursos arrecadados são investidos em benefício dos alunos, explica a coordenadora do projeto.“O dinheiro obtido patrocina transporte, festa de formatura e outras despesas dos alunos”, informa.
A repercussão do Reação foi enorme e uma surpresa, segundo Adriana. “Fomos citados até em blog da Guatemala. Basta colocar ‘isolamento térmico em Quixeramobim’ no Google e verá”, sugere.
A fábrica de calçados Aniger, de Quixeramobim, doou duas máquinas industriais para o Reação e assim foi resolvido o problema de quebra de agulhas, pois a máquina doméstica usada pelos alunos não aguentava o material. Essa fábrica também passou a doar resíduos de couro sintético, que sobram da produção de 12 mil pares/dia. Esse material foi agregado ao acabamento de bolsas, carteiras e sacolas. A Aniger ainda doa a linha utilizada pelo Reação.
“Depois dessas doações, conseguimos aumentar a produção”, informa Adriana. Mas há fila de espera para a instalação das mantas de isolamento térmico nas casas, devido ao enorme interesse e demanda, acrescenta. Sacos plásticos de arroz também entraram no rol de produtos sustentáveis do projeto dos alunos da Escola Estadual Dr. José Alves da Silveira. Eles passaram a coletar o material de donas de casa e supermercados para produzir redes para descanso e de pesca.
Outros resíduos, também reaproveitados por eles, são os de borracha e PVC, doados pela mesma fábrica de calçados. Depois de triturados, a escola utiliza o material para produzir tijolos para a construção civil. “Vamos construir uma casa modelo com esses tijolos para despertar interesse de alguma fábrica”, diz Adriana.
Essa experiência também pode se transformar em projeto de geração de renda, para os pais dos alunos que queiram montar uma cooperativa para fabricar tijolos de resíduos de borracha e PVC, sugere a professora. “É muito gratificante melhorar a vida das famílias. A escola também tem essa função social”, justifica Adriana.
“Acho o Reação super interessante, porque é socioambiental. A base do desenvolvimento agora é reciclar. Já se fala muito de reciclagem. Muita gente já sabe que é preciso reciclar. Agora é preciso ensinar como fazer reciclagem, introduzir isso no dia a dia das pessoas. O Reação está fazendo isso em Quixeramobim”, declara Crysna Arruda, aluna do segundo ano do curso de edificações da Escola Estadual Dr. José Alves da Silveira e participante do projeto exemplar dessa cidade do sertão cearense.

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FONTE : * Publicado originalmente no site EcoAgência.