n49 300x225 Medir os impactos é crucial no desenvolvimento rural latino americano
Eduardo Ramírez, pesquisador do Centro Latino-Americano para o Desenvolvimento Rural, durante a entrevista: Foto: Rimisp
Santiago, Chile, 14/6/2013 – O Centro Latino-Americano para o Desenvolvimento Rural (Rimisp) busca propor e validar um método de avaliação de processos, resultados, alcances e impactos em grupos vulneráveis da região dos projetos agropecuários financiados pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida). O projeto Pobreza e Desigualdade, Análise no Setor Rural da América Latina estuda essas realidades no campo de seus países, bem como a agricultura familiar e os métodos de avaliação dos programas da região que contam com apoio do Fida.
Este último componente, dirigido por Eduardo Ramírez, pesquisador principal do Rimisp, tem o objetivo de ajustar e ampliar o sistema de Gestão de Resultados e Impactos (RIMS), do próprio Fida. A meta é avaliar os 20 projetos que este Fundo desenvolve na região e lançar luzes para as estratégias políticas de desenvolvimento rural na América Latina. Em entrevista à IPS na capital chilena, sede do Rimisp, Ramírez explicou que o Fida pretende, entre outros objetivos, ser um instrumento que produza modelos de intervenção, “porque o benefício é que os países utilizem estas metodologias para gerar projetos e ter maior alcance”.
IPS: Quais países o projeto Rimisp atingiu?
EDUARDO RAMÍREZ: Fizemos uma revisão sobre os sistemas do Chile, Colômbia, Brasil, México e Peru. Depois realizamos o painel Método de Acompanhamento e Avaliação de Projetos, nos dias 14 e 15 de maio, em Lima, no Peru, no qual reunimos gente do Fida mundial, do Fida regional e dos governos. Discutimos a pertinência desta proposta e nos demos conta de que há um espaço para unir o RIMS com os projetos, e é o que estamos fazendo agora.
IPS: Existe também um espaço de colaboração com os sistemas nacionais de avaliação?
ER: Há um espaço, mas não tão grande, porque os sistemas de avaliação dos países estão ligados a um ciclo de gestão pública que transcende ou não tem muita relação com os projetos. De todo modo, o resultado foi heterogêneo. Na Colômbia, há boas chances de se fazer coisas. No Brasil, pelo seu tamanho e também dos projetos, há possibilidades, não em nível de governo mas dos Estados. No México, é necessário um trabalho com maior dedicação, porque existe uma estratégia que fixa prioridades com planos bianuais que dependem do governo, por isso é mais complicado entrar. O Peru poderia ser, mas ainda está sendo instalado um sistema de avaliação de projetos sociais. No Chile, o Fida não tem projetos e o país não participou do painel.
IPS: O que se pode ressaltar na medição dos países?
ER: É importante destacar que todos os países da região estão se movendo para sistemas institucionalizados de avaliação de impacto, que a estão desacoplando de aspectos mais políticos ou eleitorais, para se transformar em sistemas com bastante sustentação técnica, em alguns países com mais independência que outros. Também costumam começar a gerar informação bem interessante sobre os resultados, os efeitos dos projetos que estão sendo realizados nos países.
IPS: Por que é importante a avaliação de impacto dos projetos?
ER: Se o desejo é incidir politicamente e também demonstrar que sua maneira de trabalhar é coerente com as restrições e com o contexto em que se encontra a pobreza rural na América Latina, é necessário ter avaliações de impacto para ter credibilidade. Contudo, não qualquer avaliação de impacto. Por isso foi importante investigar sobre os protocolos e os sistemas de avaliação de impacto dos países, o que as nações consideram razoável, em que acreditam, qual é o padrão da avaliação de impacto.
IPS: O que essa pesquisa mostrou?
ER: Vimos que a tendência é para sistemas muito mais padronizados, que exigem muita informação, não apenas da avaliação de impacto, mas de como se faz essa avaliação, qual é a credibilidade que tem esse processo. Então, existe um conjunto de necessidades na avaliação de impacto que é preciso “controlar ou antecipar”, para que esse resultado seja consistente com a ideia de gerar incidência nas políticas públicas na região.
IPS: Com são medidos os resultados?
ER: É uma das discussões que estamos realizando. Dizemos que os resultados têm de ser medidos sobre dois conceitos: primeiro, deve-se medir ali onde queremos causar impacto, isto é, as famílias. Segundo, temos que medir naquilo que nós, de maneira plausível, modificamos. Então, falamos de coerência entre a teoria de mudança, ou as suposições que tem o projeto, e o que vamos medir como impacto.
IPS: Por que são tão importantes a transparência e a prestação de contas?
ER: É um dos elementos não desenvolvidos com grande ênfase, mas a avaliação de impacto contribui para a prestação de contas.
IPS: Os projetos de desenvolvimento rural conseguiram resultados concretos para a redução da pobreza?
ER: O exemplo do Brasil é muito bom. Colômbia e México estão fazendo um esforço importante para integrar os pequenos produtores e zonas rurais bem marginalizadas a mercados um pouco mais dinâmicos, para dessa forma causar impacto nos níveis de vida. O Peru realiza uma experiência bem interessante no sentido de conjugar as políticas de entrega de fundos para estratégias mais produtivas, dar um pouco de sustentabilidade a essas economias locais mais vulneráveis. Envolverde/IPS