malawi640 Malauítas vulneráveis diante da falta de política climática
Agnes Katete acende um fogo ao lado de sua barraca. Ela é uma das muitas pessoas afetadas pelas inundações de março. Foto: Mabvuto Banda/IPS

Lilongwe, Malawi, 16/12/2013 – Os atrasos na elaboração de uma política nacional contra a mudança climática no Malawi estão afetando milhões de pessoas que vivem nas áreas mais sensíveis dessa nação do sul africano. Assim reconheceu a ministra de Meio Ambiente e Manejo da Mudança Climática, Halima Daudi. A ministra, que liderou a delegação de seu país na 19ª Conferência das Partes (COP 19) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, no mês passado, em Varsóvia, na Polônia, disse à IPS que a demora faz estragos entre os mais fracos.
“Por exemplo, existe o Fundo Verde para o Clima, para o qual temos que criar uma autoridade designada que receba os recursos, e não podemos ter acesso a eles sem uma política nacional sobre mudança climática”, afirmou Daudi. Nos últimos três anos, o governo do Malawi, com ajuda da Organização das Nações Unidas (ONU), vem trabalhando na elaboração de uma política contra o aquecimento global e em um Plano Nacional de Adaptação para as necessidades do país no médio prazo.
William Chadza, diretor-executivo do não governamental Centro para Políticas e Defesa do Meio Ambiente, argumentou que “não podemos financiar a adaptação sem uma política nacional contra a mudança climática bem articulada e sem um plano de adaptação que deve ser criado pelo órgão especificamente encarregado de administrar os fundos”. Com ele concordou Daudi: “É muito difícil para nós termos acesso a esses fundos para a adaptação e a mitigação, e isto, no fim das contas, aumenta a vulnerabilidade de muitas famílias”.
Porém, a ministra defendeu seu governo, dizendo que os atrasos se devem à falta de recursos “para realizar reuniões de consulta”, acrescentando que “principalmente não queremos apressar isto. É uma política muito importante que definirá nossa postura diante da mudança climática. Estamos dedicando tempo para isso”. Dora Marema, coordenadora da rede de ativistas por temas de gênero e justiça climática GenderCC, alertou que os atrasos na implantação de políticas climáticas em vários países africanos, incluindo o Malawi, colocam em risco centenas de milhares de pessoas.
“É certo que a maioria dos países não tem acesso aos fundos necessários para a adaptação por não terem políticas em vigor, e isso impacta nos mais vulneráveis, especialmente nas mulheres que tentam se recuperar dos desastres associados com a mudança climática”, pontuou Marema à IPS. E, quanto mais Malawi demorar para adotar uma política, mais demorará para Agnes Katete e sua família se recuperarem.
Uma manhã de março, uma inundação arrasou as choças de Katete e de mais dez famílias na aldeia de Kilipula, no distrito de Karonga, no Lago Malawi a 600 quilômetros de Lilongwe. Katete teve sorte. Conseguiu escapar ilesa com seus quatro filhos. Mas, como muitos outros em sua aldeia, perdeu suas plantações de arroz, e nove meses depois ainda não conseguiu encontrar outra forma de sustento.
Katete e muitos outros afetados vivem em barracas de campanha instaladas pelo governo e por agências da ONU, e sobrevivem graças a doações. “Não sei o que acontecerá a mim e aos meus filhos porque já começou outra temporada de chuvas e ainda não tenho casa. Perdi minha renda e não tenho comida”, contou à IPS.
Nos últimos cinco anos, persistentes secas, inundações inesperadas e chuvas erráticas afetaram as áreas mais vulneráveis. Só este ano, segundo o Departamento para Assuntos de Desastres, as inundações afetaram cerca de 12.800 domicílios e destruíram cultivos inteiros, principalmente no norte e sul do país. Em março de 2012, inundações causadas por duas semanas de chuvas torrenciais destruíram milhares de casas em oito distritos, deixando cerca de 300 mil desabrigados, oito mortos e vários desaparecidos. O maior impacto foi no setor agrícola, dependente das chuvas. O país conta com três milhões de hectares de terra arável.
Evans Njewa, chefe de políticas e planejamento ambientais, informou à IPS que um dos métodos de adaptação que o governo pensa promover é a conservação dos solos. Njewa acrescentou que métodos de conservação como a redução da aragem, a cobertura permanente dos solos e a rotação de cultivos, podem servir para a adaptação, já que aumentam a produtividade e ajudam os agricultores a conseguir melhor retenção da água. “Como muitos outros países africanos, consideramos a adaptação uma prioridade na Política Nacional Climática”, ressaltou, porque, “para um país menos industrializado, é mais fácil se concentrar na mitigação”. Envolverde/IPS
(IPS)