onu Presenças e ausências que brilham na Cúpula do Clima
Kathy Jetnil Kijiner, representante da sociedade civil das Ilhas Marshall, leu um poema dirigido à sua filha na abertura da Cúpula do Clima da ONU e foi aplaudida de pé pelo público presente. Foto: ONU/Mark Garten

Nações Unidas, 25/9/2014 – Em declaração a mais de 120 chefes de Estado na Cúpula do Clima, o ator e novoMensageiro da Paz da ONU, Leonardo Di Caprio, destacou o longo alcance que terão as consequências das decisões que os presentes tomarem no futuro. “Podem fazer história ou serem vilipendiados por ela”, afirmou na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
A Cúpula do Clima, realizada no dia 23, não integrou a Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), mas foi uma OCASIÃO ESPECIAL convocada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para impulsionar a opinião pública e redobrar a vontade política em prol de um acordo climático vinculante, a ser negociado em Paris no final do ano que vem.
“Essa mescla de participação de governos, empresas, cidades, Estados e sociedade civil sem dúvida não tem precedentes e oferece a oportunidade de abrir o debate da mudança climática ao nível de chefes de Estado como nunca antes”, afirmou Jennifer Morgan, da organização independente Instituto de Recursos Mundiais (WRI), em um comunicado.
Ban abriu o encontro com uma exortação para que os líderes assumam compromissos substanciais para mitigar a mudança climática. “A mudança climática é a questão que define nossa época. Devemos trabalhar juntos para mobilizar os mercados e nos comprometermos com um acordo climático significativo e universal em Paris, no próximo ano”, enfatizou.
Em três sessões simultâneas, os mandatários anunciaram medidas nacionais e planos ambiciosos de luta contra a mudança climática, como a redução de emissões de gases-estufa que contaminam a atmosfera, a doação de DINHEIRO para o Fundo Verde para o Clima, o freio ao desmatamento e as gestões para fixar um preço para o carbono. Os representantes dos pequenos Estados insulares lamentaram que seus países ficarão sob a água em algumas décadas, enquanto os governantes africanos destacaram o crescente número de refugiados do clima.
Na cúpula, todos os olhares estavam voltados para China e Estados Unidos, respectivamente o primeiro e o segundo países entre os maiores emissores de carbono no mundo.
O presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou que todos os investimentos futuros dos Estados Unidos no desenvolvimento internacional considerarão a resiliência climática como um fator importante, acrescentando que Washington cumprirá seu objetivo de redução das emissões de carbono de 17% abaixo dos níveis de 2005, até 2020.
“Reconhecemos nosso papel na criação desse problema. Aceitamos nossa responsabilidade para combatê-lo. Faremos nossa parte e ajudaremos as nações em desenvolvimento a fazerem a sua”, afirmou Obama. “Mas só teremos êxito na luta contra a mudança climática se a esse esforço se somarem todas as nações, desenvolvidas e em desenvolvimento, igualmente. Ninguém terá um passe livre”, acrescentou.
O presidente da China, Xi Jinping, não participou da cúpula, mas enviou o vice-primeiro-ministro, Zhang Gaoli. Apesar de a ausência de Xi ter decepcionado alguns, o fato de um funcionário chinês de alto escalão, como Zhang, falar da necessidade de mitigar a mudança climática foi motivo de otimismo.
Morgan, da WRI, apontou que “as declarações da China na Cúpula do Clima vão mais longe do que nunca”. O anúncio de Zhang de que o país “tentará reduzir as emissões o mais rápido possível é um bem-vindo sinal para a ação cooperativa que precisamos para o acordo de Paris”, destacou. A China representa 25% das emissões mundiais de carbono por ano.
Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, tampouco participou da cúpula. Esse país é o terceiro maior emissor mundial de carbono.
Na jornada do dia 23, Ban insistiu em afirmar que se está avançando seriamente. “Esta cúpula não se trata de falar e está produzindo ações que fazem a diferença”, assegurou o secretário-geral da ONU.
Uma das coisas mais concretas que os países podem fazer para lutar contra a mudança climática é contribuir com o Fundo Verde para o Clima, um mecanismo da CMNUCC concebido para transferir DINHEIRO do Norte industrial para o Sul em desenvolvimento, para que este aumente sua resiliência climática.
O presidente da França, François Hollande, prometeu na cúpula US$ 1 bilhão para o Fundo Verde nos próximos anos, a mesma quantia anunciada pela Alemanha há vários meses. Outros países, entre eles Noruega e Suíça, se comprometeram a entregar quantidades menores. Porém, esses esforços não chegam a fechar a brecha da resiliência climática entre os Estados ricos e os pobres.
O presidente boliviano, Evo Morales, expressou uma frustração comum em seu discurso em nome do G77, um grupo de 133 países em desenvolvimento mais a China. “Os países em desenvolvimento são os que mais sofrem os efeitos adversos da mudança climática, embora historicamente sejam os menos responsáveis” pelo mesmo, destacou. Morales criticou as nações industrializadas por descumprirem seus compromissos e garantiu que o Sul em desenvolvimento só será capaz de mitigar suas emissões de carbono com a forte ajuda financeira do Norte.
É fácil “ficar preso no jogo de soma zero” quando se fala de medidas para mitigar a mudança climática, afirmou David Waskow, diretor da Iniciativa Climática Internacional da WRI. Mas algo “que se ouviu do palco com frequência hoje foi o reconhecimento de que a ação climática, o crescimento econômico e o desenvolvimento podem seguir juntos”, acrescentou.
A responsabilidade histórica é uma preocupação, mas não deve impedir que os países pobres reconheçam que “há caminhos a seguir na ação climática que podem, de fato, beneficiar o desenvolvimento”, pontuou Waskow. Em muitos países, a energia renovável logo será tão barata como os combustíveis fósseis, e isso poderá representar importantes benefícios às zonas rurais distantes da rede elétrica principal, acrescentou.
Por outro lado, o apoio popular às medidas contra a mudança climática continua crescendo. Cerca de cem eventos relacionados com o clima acontecerão em Nova York até o dia 28, como parte da campanha da Semana do Clima nesta cidade. No dia 21, dois dias antes da cúpula, cerca de 400 mil manifestantes participaram da Marcha pelo Clima em Nova York, enquanto atos semelhantes aconteciam em 166 países.
Ban, Di Caprio, o ativista ecologista e ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, também participaram da marcha de Nova York. Envolverde/IPS
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