Pescadores de Granada se preparam para sair ao mar. Eles se queixam que nos últimos tempos a pesca diminuiu e seu modo de obter renda está em perigo por causa da mudança climática. Foto: Desmond Brown
Pescadores de Granada se preparam para sair ao mar. Eles se queixam que nos últimos tempos a pesca diminuiu e seu modo de obter renda está em perigo por causa da mudança climática. Foto: Desmond Brown

Palmiste, Granada, 30/4/2015 – Henry Prince, de 67 anos, viveu toda sua vida neste povoado de pescadores de Granada, e há algum tempo nota que a captura é cada vez menor, o que prejudica sua renda, e também a dos seus colegas.
“Ouvi falar sobre mudança climática, mas nunca prestei muita atenção. Já não pescamos jacks (Caranx lugubris) como antes”, contou Prince à IPS.
Estes pequenos peixes costumam ser usados como isca, mas também são consumidos fritos como alimento, especialmente entre as famílias mais pobres, pois são uma fonte barata de proteínas neste país insular e o segundo menor do Caribe.
Nos últimos anos os jacks começaram a ficar escassos; antes costumavam ser abundantes em meados de novembro. Diante de sua diminuição, os pescadores têm que importar sardinhas dos Estados Unidos para usar como isca.
O ministro de Agricultura, Terras, Pesca e Meio Ambiente de Granada, Roland Bhola, acredita que a redução de peixes em suas águas territoriais é resultado direto da mudança climática. “Nossos pescadores denunciam que cada vez pescam menos onde antes havia um mercado próspero”, relatou Bhola. “Pudemos associar esse fato com a mudança climática, a destruição de nossos arrecifes de coral e de outros ecossistemas, como os mangues”, acrescentou.
“Para mim, a pesca um dia é boa e outro dia é ruim”, disse à IPS outro pescador de Palmiste, Ralph Crewney. “Nos últimos meses apenas pescamos alguns. Em junho do ano passado conseguimos uma pesca grande de último momento”, contou.
Os pescadores de Granada Henry Prince (direita) e Ralph Crewney consideram o território costeiro com um virtual direito de nascimento, apesar dos riscos que representa a mudança climática. Foto: Desmond Brown/IPS
Os pescadores de Granada Henry Prince (direita) e Ralph Crewney consideram o território costeiro com um virtual direito de nascimento, apesar dos riscos que representa a mudança climática. Foto: Desmond Brown/IPS

Crewney, de 68 anos, há 20 vive na costa, e também nota que nos últimos meses o mar se aproxima de sua pequena choça. Mas não tem planos de se mudar em breve. “Estou cômodo porque gosto de ficar longe do barulho”, explicou.
Outras famílias da zona pensam em se reassentar nas comunidades dos morros, mas se mostram reticentes em se afastar muito de sua fonte de renda. As famílias de pescadores do Caribe consideram os terrenos de frente ao mar como um virtual direito de nascimento, com a alarmante proporção de 70% da população caribenha assentada na faixa costeira.
Na região da Comunidade do Caribe (Caricom) a população depende da pesca para seu desenvolvimento econômico e social. O recurso também contribui para sua segurança alimentar, o alivio da pobreza, emprego, entrada de divisas, desenvolvimento e estabilidade das comunidades rurais e costeiras, bem como para cultura, lazer e turismo.
O setor oferece emprego direto a mais de 120 mil pescadores, e indireto a milhares de outras pessoas, especialmente mulheres, que se dedicam ao processamento, à comercialização, construção de barcos, fabricação de redes e outros serviços vinculados.
As tempestades e a erosão sempre deram forma à geografia da costa, mas se prevê que a elevação do mar e o aumento das tempestades mais intensas traga uma transformação drástica da faixa costeira nas próximas décadas, o que acarretará enormes custos econômicos e sociais.
Segundo cientistas e modelos informatizados, a elevação do nível do mar em escala global poderá ser de pelo menos um metro até 2100, como consequência da maior distribuição das correntes mais quentes e do derretimento das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida.
O nível do mar global aumentou, em média, três centímetros nos 10 anos posteriores a 1993, segundo especialistas em clima, e as consequências poderiam se amplificar em diferentes áreas de acordo com a topografia, entre outros fatores.
No dia 16 deste mês, delegados que participaram da Consulta Nacional de Atores pediram urgência às autoridades no sentido de restabelecer o Conselho Nacional de mudança climática, já que a ilha se encaminha para fortalecer as medidas a fim de enfrentar o impacto do fenômeno. Segundo eles, embora Gratinada tenha avançado em matéria de mudança climática e ambiente, ainda há muito por fazer sobre a resiliência e o desenvolvimento de capacidades para implantar medidas concretas.
A consulta, organizada pelo Banco Mundial e governo, durou um dia.
O reestabelecimento do conselho ajudará “a impulsionar a agenda sobre mudança climática e integrar o fenômeno ao planejamento nacional e à incorporação da adaptação”, bem como o monitoramento e o registro, diz um comunicado governamental.
O Programa para a Resiliência Climática (CIF), do Fundo de Investimento Climático, aprovou esse ano um pacto de US$ 10,39 milhões para financiar um projeto-piloto vinculado à resiliência.
O ministro do Meio Ambiente de Granada, Roland Bhola, disse que seu pequeno país insular é muito vulnerável à mudança climática. Foto: Desmond Brown/IPS
O ministro do Meio Ambiente de Granada, Roland Bhola, disse que seu pequeno país insular é muito vulnerável à mudança climática. Foto: Desmond Brown/IPS

O informe do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a mudança climática (IPCC), diz que a devastação deixada pelo furacão Ivã em Granada em 2004 “é um poderoso reflexo da realidade da vulnerabilidade das pequenas ilhas”. O furacão deixou 28 mortos, prejuízos que chegaram ao dobro do produto interno bruto, destruição de 90% do parque habitacional e hoteleiro e afundamento da economia que vinha crescendo 6% ao ano.
Estima-se que tanto Granada quanto seus vizinhos do Caribe, que dependem do turismo, estejam entre os países mais vulneráveis à mudança climática. Inúmeros cientistas concordam que esta nação insular tem alto risco de sofrer um impacto negativo devido à mudança climática em várias áreas, com inundação costeira por desastres naturais e aumento de tempestades.
Também afirmam que o ecossistema marinho é afetado pelo aumento da temperatura do oceano e que a maior corrente de água doce é responsável pela destruição dos arrecifes de coral e interrupção da cadeia alimentícia, afetando a pesca e o turismo. Nos últimos 25 anos, as frágeis ilhas granadinas de Carriacou e Petite Martinique também sofreram as consequências de tempestades, furacões, agitação das ondas e elevação do nível do mar.
Isto causou severa perda de vegetação de mangue ao longo da costa, bem como uma erosão costeira, danos ao solo e uma séria ameaça ao turismo, que depende em grande parte das condições da praia e da saúde da vida marinha.
Enquanto isso, na medida em que os países se preparam para adotar um novo acordo internacional vinculante em Paris, no mês de dezembro, quando acontecerá a 21ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, Bhola disse que Granada aspira sua implantação com grande êxito. “Granada é um pequeno país em desenvolvimento, é muito vulnerável à mudança climática. Um acordo de sucesso deve reduzir o risco que enfrentamos e nos ajudar a fazer frente às consequências que tem para nosso país, nosso povo e nosso modo de vida”, acrescentou. Envolverde/IPS
(IPS)