A questão principal não se refere às sacolas plásticas, mas principalmente ao seu mau uso. Foto: Fernanda Carvalho/ Fotos Públicas
A questão principal não se refere às sacolas plásticas, mas principalmente ao seu mau uso. Foto: Fernanda Carvalho/ Fotos Públicas

O marketing transformou em nova fonte de lucro o que vende como política ambiental, o que explicita a cobiça e a falta de comprometimento com os problemas da sociedade
O fim das sacolas plásticas comuns no comércio paulistano, comemorado como um avanço em política de resíduos sólidos, acabou se tornando uma nova oportunidade de negócio para os grandes varejistas e um transtorno para boa parte dos consumidores.
Não se discute a tardia proibição das sacolas derivadas do petróleo. Porém, a lei proíbe apenas a distribuição das sacolas comuns. Não existe restrição em relação às novas “sacolas verdes”.
Enquanto o pequeno comércio segue distribuindo gratuitamente as sacolas, agora produzidas em parte com material renovável, as grandes redes alegam que não conseguem absorver os custos das novas embalagens.
As alternativas gratuitas encontradas nas grandes lojas não atendem a todas as necessidades dos clientes. Caixa de papelão serve para quem vai ao mercado de carro, mas dificulta a vida de quem está a pé ou de ônibus.
As sacolas retornáveis são muito úteis, mas não resolvem o acondicionamento do lixo doméstico. Quem sempre utilizou as sacolas agora teria de comprar sacos de lixo?
Talvez a melhor maneira de incentivar o grande varejo a conseguir assimilar esse custo seria um boicote contra a sua cobrança. Assim, utilizando a lógica da oferta e da procura, os consumidores prestigiariam o pequeno comércio, que demonstra muito mais agilidade e adequação aos novos tempos do que os gigantes corporativos.
Apenas dessa forma parece possível inverter essa situação que trouxe transtorno e novos gastos para o consumidor e uma inegável redução de custos para os grandes comerciantes.
Ardilosamente, os supermercados investiram numa certa demonização das sacolas. A imprensa repete acriticamente que as sacolas entopem bueiros e causam a morte de animais por sufocamento.
A intenção é mostrar que, ao restringir e cobrar pelas sacolas, a empresa já está dando sua colaboração ao ambiente. Desta forma, o marketing transforma a nova fonte de lucro – a venda das sacolas – em política ambiental.
Ocorre que, se as novas sacolas forem jogadas nas ruas e nos rios, continuaremos a ver bueiros entupidos e animais engasgados. A questão principal não se refere apenas ao material utilizado na confecção das embalagens, mas principalmente ao seu mau uso.
É preciso investir na conscientização da população e na melhoria dos serviços de coleta de lixo e de limpeza para que se atinja alguma melhoria ambiental.
Cobrar pelas embalagens apenas explicita a cobiça e a falta de comprometimento com os problemas da sociedade por parte dos grandes varejistas.
Bento Abreu é jornalista.
** Publicado originalmente no site Carta Capital.
(Carta Capital)