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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Samarco e ações do PCC? artigo de Paulo Sanda

[EcoDebate] Não costumo assistir à televisão, acho chato. Vez em quando vejo uma ou outra coisa, assim de meses em meses.
Estes dias por acaso antes de dormir liguei a TV e assisti ao CQC, o quadro que vi foi a matéria sobre o desastre em Minas Geras, causado pelo rompimento da barragem da Samarco. De fato bastante interessante e bem construída. As cenas da Samarco controlando toda a região atingida, tentando impedir a cobertura da equipe da CQC e as palavras do repórter; “é o único caso onde a cena do crime é controlada pelo principal suspeito”. Deu a nítida impressão de assistir a algum daqueles filmes ou seriados americanos onde uma corporação é dona do mundo. Ou um filme de gangster, onde os bandidos controlam uma cidade e ninguém tem coragem de enfrentá-los. Como disse a matéria foi muito bem construída.
Porém podemos ainda pensar que a empresa está colaborando na limpeza e reconstrução, já que o governo demoraria muito para fazer alguma coisa. Também que ela está também hospedando os desabrigados em hotéis, pois da mesma forma o socorro oficial também seria moroso e insuficiente. Enfim que de algum jeito a empresa arcaria com sua responsabilidade e ajudando as pessoas atingidas.
Feita a tentativa de defesa; se alguém tiver outras fique à vontade. Quero contar duas ideias que tive.
Novas oportunidades de investimento!
Que tal investir no PCC?
Trata-se de uma grande organização que apesar da repressão contra seus negócios cresce e se expande a olhos vistos.
O PCC poderia se oficializar tirando um CNPJ e abrindo seu capital no mercado, em outras palavras vendendo ações! Com o resultado da operação, ou seja, com o dinheiro obtido poderia ampliar seus recursos, armamentos melhores, estoque de drogas, transporte, etc.
Não? Você acha isto absurdo?
Então vamos a segunda ideia.
As corporações são tratadas como pessoas, é uma ficção jurídica por isto o nome pessoa jurídica. Porém existem grandes diferenças entre elas; as pessoas e as corporações. A primeira é que as corporações são virtualmente imortais, digo virtualmente pois não estão sujeitas a morte biologicamente falando elas podem falir porém quanto maior e mais poderosa menos chances disto acontecer. E a razão disto é que elas são como “vampiros” e quanto mais poderosas mais “sangue” elas podem sorver. Outra coisa também que as diferencia das pessoas é que as corporações não tem nenhuma capacidade empática, de sentir e sofrer com a dor do outro. E a falta de capacidade empática é uma das principais características dos sociopatas. Agora imagine sociopatas imortais.
O contraponto disto seria afirmar que existem sim controles sobre as corporações e suas ações, o primeiro seria a fiscalização oficial. Porém da mesma forma que a Samarco por exemplo está cuidando da cena do crime que ela mesma cometeu, o controle da fiscalização sobre as corporações é comandado por quem elas colocam no poder. Acho que isto não dá muito certo, não é? Algo como a prisão onde Pablo Escobar ficou, aquela construída e mantida por ele mesmo. E olha que no caso do Escobar pelo menos ele ficava lá dentro.
Outra possibilidade é que as corporações são sujeitas a opinião pública, e abalos em sua imagem comprometem a venda de seus produtos. Será? Se aquela grife de roupas(Zara se não me engano) continua vendendo mesmo após várias descobertas de trabalho escravo, o que dizer de empresas como a Samarco que não vendem diretamente para o consumidor?
Temos então o argumento definitivo, o mercado de capitais. As empresas estão sujeitas aos humores dos mercados de capitais e se os investidores sentem cheiro de prejuízo as ações caem abruptamente o que é um grande temor para as corporações.
Isto pode e acontece, mas feitos os ajustes e pagas as míseras indenizações, a vida volta a normalidade, as ações voltam a subir e os investidores ficam felizes. Nada que as abale definitivamente.
Mas vamos ao pior dos casos, imaginemos que uma corporação morra; “quem paga o pato?”. Os altos executivos conseguirão colocação em outras corporações provavelmente, os investidores amargarão um certo prejuízo, mas as pessoas cujas vidas dependiam de seus empregos, estas certamente sofrerão muito mais que os dois primeiros.
Não é difícil verificar que nem os altos executivos nem os investidores têm muito o que temer.
Então vamos a proposta que lança minha candidatura a deputado federal! Brincadeira…
Que tal um projeto de lei onde não só se aumente e muito as multas para as corporações mas também haja responsabilidade criminal para toda cadeia de comando e para todos os acionistas! Que tal?
Da mesma forma que a sociedade teme os menores de 18 anos, deve temer também as corporações. Então cadeia para executivos e acionistas. As coisas não devem ser medidas apenas por dinheiro.
Absurdo? Então voltemos a primeira ideia, abertura de capital do PCC e organizações congêneres. Afinal de contas qual facção criminosa pode causar estragos tão grandes como as corporações? Qual delas desgraçam a vida de mais pessoas ou matam no volume que as corporações matam e sem nenhuma repressão?
“Mas isto acabaria com o mercado de capitais!”
Talvez você esteja pensando.
E não está na hora do capital sair de cena para que o valor da vida possa ser reconhecido e preservado? Que tal um mercado onde o que vale não são os valores financeiros, mas aqueles que contribuem para preservação da vida e do planeta?
Complicado? Sim muito, mas ou se doma o poder e os poderosos ou aquela peça literária escrita por um certo João se tornará uma realidade. Aliás para os moradores de Mariana o Apocalipse já se tornou real.
Paulo Sanda, Teólogo, palestrante, associado da ONG RUAH, é um dos coordenadores do PortalPalavra Aberta.

in EcoDebate, 23/11/2015
"Samarco e ações do PCC? artigo de Paulo Sanda," in Portal EcoDebate, 23/11/2015,http://www.ecodebate.com.br/2015/11/23/samarco-e-acoes-do-pcc-artigo-de-paulo-sanda/.

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