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segunda-feira, 11 de abril de 2016

Onda de extremo calor afeta o Sri Lanka

A terra rachada se tornou muito comum nas zonas áridas do Sri Lanka. Foto: AmanthaPerera/IPS
A terra rachada se tornou muito comum nas zonas áridas do Sri Lanka. Foto: AmanthaPerera/IPS
O clima seco poderá mudar com o início da temporada de monções, em meados de maio, não antes. Enquanto isso, as elevadas temperaturas têm impacto na eletricidade e agricultura, entre outros setores.
Por Amantha Perera, da IPS – 
Vavuniya, Sri Lanka, 11/4/2016 – Há um mês o Sri Lanka sofre uma onda de calor abrasador que obrigou à decretação de cortes de energia, após uma década sem ter problema de fornecimento. O motivo principal foi a paralisação de uma usina movida a carvão, embora os engenheiros da Ceylon Electricity Board (CEB) tenham reconhecido que a capacidade hidráulica está no mínimo e que, sem carvão, óleo combustível ou fontes renováveis, será impossível cobrir a demanda de eletricidade do país.
No sul do Sri Lanka, o mar invadiu a estação de bombeamento e deteriorou a água potável. As autoridades alertaram que a área sofrerá cortes enquanto se tenta resolver o baixo nível da água e a invasão pela água do mar. Por sua vez, o ministro da Educação, Akila Virag Kariyawasam, divulgou uma circular pouco comum, determinando que todas as escolas públicas adiem as atividades esportivas até o final deste mês, ou de maio, porque nunca foram registradas condições climáticas como as atuais.
As escolas que estão a poucos dias do início das férias de abril começaram a pedir publicamente aos estudantes que se resguardem e não fiquem ao ar livre. Abril costuma ser um mês quente, mas este ano as temperaturas estão excepcionalmente mais altas. “A onda de calor continuará durante todo este mês, porque o sol cai direto sobre o Sri Lanka. A temperatura do país aumentou três graus Celsius durante o dia e dois à noite acima da média”, segundo o principal portal de notícias do governo.
O Departamento de Meteorologia indicou que a temperatura média estará em torno dos 28,5 graus. Mas nas cidades o aumento foi maior na segunda semana de março: Anuradhapura 37 graus, Batticaloa 32, Colombo 33, Galle, 33, Jaffna 36, Kandy 35, NuwaraEliya 24 (que costuma ser a parte mais temperada do país com 18 graus), Ratnapura 36, Trincomalee 33, e Mannar 34.
Os especialistas têm dificuldades para explicar as causas do acentuado aumento da temperatura. “A mudança na direção do vento sobre o Oceano Índico pode ser uma razão”, disse Sarath Premalal, diretor de prognósticos do Departamento de Meteorologia. Outras explicações podem ser falta de nuvens, aumento da temperatura oceânica pelo El Niño e posição do sol que cai direto sobre o país.
O clima seco poderá mudar com o início da temporada de monções, em meados de maio, não antes. Enquanto isso, as elevadas temperaturas têm impacto na eletricidade e agricultura, entre outros setores. As maiores represas do Sri Lanka estão com menos de 30% de sua capacidade. As duas maiores Victoria e Randenigala, têm maior capacidade de armazenamento para a época de colheita, que começa este mês.
O presidente do sindicato de engenheiros da CEB, AthulaWanniarachchi, indicou que o governo deve avaliar a necessidade de cortar a eletricidade durante uma hora por dia. “É a pior seca que temos em cinco anos e é preciso conscientizar a população a respeito”, ressaltou.Mas os cortes de energia são politicamente controversos. Na primeira semana deste mês, a CEB determinou um apagão de três horas, mas teve que voltar atrás a pedido do governo, que argumentou que era uma decisão que cabe ao gabinete.
O ministro de Energia e Eletricidade, RajithSiyambalapitiya, declarou que a situação não era tão grave como indicado nos informes. “Atualmente,precisamos de 2.400 megawatts (MW) por dia. Se pudermos reduzir cerca de 400 MW, estaremos bem”, afirmou. O governo também avalia a compra de energia de particulares, bem como recuperar o uso de diesel para geração elétrica. Em 2014, o Sri Lanka se voltou para as usinas a carvão, que passaram a representar,em março, 41% do fornecimento nacional de energia, o petróleo 38%, e a hidráulica cerca de 17%.
Há um claro problema na opção pelo óleo combustível para a geração elétrica, já que é mais caro. Em 2012, quando este país insular atravessou situação semelhante à atual, um terço dos pagamentos em divisas foi destinado à importação desse combustível. A atual queda de preços pode amortizar um pouco o custo, mas não muito, pontuou Wanniarachchi.
Já houve aumento significativo em alguns produtos básicos e a experiência passada mostra que qualquer anomalia nas chuvas e na temperatura tem impacto nas colheitas. Em 2014, quando houve uma breve seca, a produção de arroz teve queda de 19% em relação ao ano anterior, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. A produção foi de 3,8 milhões de toneladas, 8% menos que a média quinquenal. O preço do arroz subiu 23% esse ano.
Em Vavuniya, o produtor de arroz NagarajanSivakumar conhece na própria carne o impacto do clima extremo. “Perdemos a colheita e nos endividamos”, contou. Em 2013, as perdas o obrigaram a solicitar um empréstimo equivalente a US$ 3,5 mil, e ainda deve dinheiro que lhe emprestaram a juros elevados. Vavuniya, onde cerca de 40% da população gera suas maiores rendas com agricultura, o clima extremo pode ser mortal.
Há dois anos, quando houve uma seca moderada, o PMA, os ministérios de Desenvolvimento Econômico, o de Gestão de Desastres e outros realizaram a pesquisa Seca, Segurança Alimentar e Sustento Afetados por um Clima Irregular no Sri Lanka, abril de 2014. Nas áreas afetadas das províncias Norte, Leste e Noroeste, 768 mil pessoas sofriam insegurança alimentar, o dobro do ano anterior, segundo o estudo. Nessas regiões, com 15 distritos, 18% das famílias ingeriam uma dieta baixa em calorias.Por fim, o documento recomenda às autoridades adoção de medidas para mitigar o impacto dos eventos climáticos extremos. Envolverde/IPS

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