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quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Livro revela patrimônio natural e aponta riscos na Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e entorno

Obra lançada na quarta-feira (23 de agosto) por professores da UFSC é resultado de três anos de pesquisa e está disponível para download
Livro revela patrimônio natural e aponta riscos na Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e entorno
Três anos de pesquisa; cerca de 130 expedições ao mar; mais de 140 pessoas de diferentes campos do conhecimento trabalhando em uma área com biodiversidade única. Estes números sintetizam o tamanho do Projeto de Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e Entorno (MAArE), que mapeou dados biológicos e oceanográficos deste patrimônio natural catarinense. Parte dos resultados, incluindo o alerta para os riscos da ação humana, pode ser conferido em livro lançado na quarta-feira (23 de agosto). A publicação está disponível para download no site do projeto (www.maare.ufsc.br).
O Projeto MAArE é resultado de uma condicionante ambiental do Processo de  Licenciamento dos Campos Petrolíferos de Baúna e Piracaba, na Bacia de Santos, a cerca de 300 quilômetros da costa de Santa Catarina. O Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio) solicitou que a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (Rebio Arvoredo), localizada entre Florianópolis e Bombinhas, fosse estudada como subsídio à gestão da Unidade de Conservação que possui uma área de 17.600  hectares (ha) − aproximadamente 40% do tamanho da Ilha de Santa Catarina. O projeto foi coordenado pelo Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC.
Durante os três anos de pesquisa, entre 2014 e 2016, os dados foram compilados em relatórios técnicos e científicos e geraram uma série de trabalhos acadêmicos, como artigos e teses. O livro, no entanto, foi pensado para ser acessível a um público mais amplo, que possa se interessar pelo monitoramento ambiental e pela conservação da natureza. Conta com uma linguagem simples, gráficos, aquarelas e muitas fotografias. “Este livro resume o estado atual da Rebio Arvoredo como uma ‘fotografia’ científica e artística do patrimônio que estas ilhas guardam”, escreveu João Paulo Krajewski, biólogo e doutor em ecologia de peixes marinhos, que viaja pelo mundo fotografando e filmando a natureza. Ele é responsável por grande parte das fotografias e por um capítulo do livro.
Segundo a professora Bárbara Segal, coordenadora do projeto e responsável pela parte biológica do MAArE, a pesquisa mostra a importância da unidade de conservação. De forma geral, há muito mais biodiversidade dentro da Rebio Arvoredo que no seu entorno. No caso de peixes como as garoupas, por exemplo, dentro da reserva eles são encontrados em maior número e tamanho, muitas vezes passando de 50 centímetros. “Esse status de conservação gera um panorama onde os peixes possuem um tamanho maior e consequentemente produzem mais ovos do que no entorno onde ocorre a pesca. Dessa forma, a Rebio Arvoredo ajuda a recompor o entorno com peixes. Isso mostra claramente a importância de ter áreas reservadas para poder contribuir com as áreas que estão sendo pescadas no entorno”, avaliou a pesquisadora.
O projeto também ajudou a identificar o coral-sol, uma espécie invasora que, por não ter um predador natural, prolifera-se rapidamente e toma o espaço das populações locais. Além de identificar o invasor e informar ao ICMBio, os pesquisadores-mergulhadores ajudaram a removê-lo de forma voluntária. “A gente detectou, mapeou, e a ação foi feita em um momento em que as populações ainda não estavam muito espalhadas. A situação agora é de um relativo controle. Há ainda um foco em uma fenda pouco acessível, mas o ICMBio está fazendo o  manejo. Não conseguiu erradicar, mas está com um controle relativamente bom”, afirmou Bárbara.
Este patrimônio corre outros riscos. Um deles é em relação às mudanças climáticas. Com o aquecimento global, é comum pensarmos que tudo está aquecendo. Mas não foi isso o que detectou o MAArE. De acordo com a professora Andrea Santarosa Freire, vice-coordenadora do projeto e responsável pela parte oceanográfica, com o  forte El Niño de 2015/2016, que aquece as águas do Oceano Pacífico, as águas catarinenses ficaram muito frias. “O fato é que não necessariamente as mudanças globais vão fazer com que aqui as temperaturas fiquem mais quentes. Aqui pode ficar até mais frio, como aconteceu em 2016. E se ficar mais frio esta fauna da Rebio vai sofrer porque é tropical e pode não resistir muito a baixas temperaturas”, explicou.
Há outros perigos mais próximos. O projeto detectou altos índices de poluição em dois locais da região: na baía norte, em Florianópolis, e na baía de Tijucas, em Tijucas. Esses espaços apresentam baixo índice de biodiversidade e podem, no futuro, afetar a Rebio. “Qual a tendência? Se não cuidarmos do entorno, essa poluição e essa baixa diversidade vão ocorrer dentro da reserva. Penso que o MAArE serve como um alerta para que agora é realmente preciso cuidar. Os municípios no entorno precisam cuidar, todos têm uma responsabilidade em relação à reserva”, alertou Andrea.
O livro foi lançado na quarta-feira (23 de agosto), no Centro Integrado de Cultura (CIC), em um evento para convidados. A publicação estará disponível no site do projeto MAArE. Também será lançado um banco de dados considerado de vanguarda no Brasil, que armazenará informações sobre os indicadores monitorados. Os gestores da Rebio Arvoredo e o público em geral terão acesso aos dados, que poderão ser usados tanto no presente como no futuro. Além disso, outras Unidades de Conservação e outros projetos poderão usar o sistema para armazenar e utilizar dados de monitoramentos ambientais.  
Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (REBIO Arvoredo)
O que é: Unidade  de  Conservação  (UC)  federal criada pelo Decreto nº 99.142, de 12  de março de 1990.
Qual o objetivo: Proteger amostra representativa dos ecossistemas da região costeira ao  norte da  ilha de Santa Catarina, suas ilhas e ilhotas, águas e plataforma continental,  com todos os recursos naturais associados.
Qual a localização: situa-se entre Florianópolis e a cidade de Bombinhas.
Quem administra: o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade  (ICMBio).
Qual a área: 17.600 ha, sendo que 98% está sob as águas, enquanto apenas 2% são terras emersas que formam as ilhas do Arvoredo, Deserta, Galé e Calhau de São Pedro.

Projeto MAArE
O que é: Projeto de  Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do  Arvoredo e Entorno.
Por que foi realizado: é resultado de uma condicionante ambiental da Petrobras no Processo de Licenciamento dos campos petrolíferos de Baúna e Piracaba, na Bacia de Santos, a cerca de 300 quilômetros da costa de Santa Catarina
Qual o número de expedições: foram cerca de 130 expedições a campo realizadas entre 2014 e 2016, envolvendo mais de 140  pessoas.
Quem coordena o projeto: o Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC.
Quais os parceiros: a Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e a  Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).Teve o apoio administrativo da Fundação de  Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU).
Como acessar o livro: basta entrar no site do 


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/08/2017

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